quarta-feira, 25 de abril de 2012

Latim - elementos gramaticais


4 - As Funções Sintáticas e os Casos Latinos

São seis as funções sintáticas que uma palavra pode exercer em uma oração. É bom saber que oração (ou proposição) é uma ou mais palavras que têm sentido completo. Ela é formada por elementos que vêm a ser as funções sintáticas.

Para cada função sintática há, em latim, um caso. Caso é o modo de se escrever uma palavra de acordo com sua função sintática. Há seis casos em latim, pois são seis as funções. Numa oração, podem-se encontrar seis elementos:

· Sujeito

· Vocativo

· Adjunto adnominal restritivo

· Objeto direto

· Objeto indireto

· Adjunto adverbial

4.1 – Sujeito

É o elemento do qual se diz alguma coisa. É o agente de uma ação verbal ou o seu paciente. Em Pedro gosta de análise sintática, Pedro é o elemento ou o agente da ação de gostar. É o sujeito da oração. Já em a análise sintática da oração foi feita por Pedro; a análise sintática é o elemento ou paciente que sofre a ação verbal. É o sujeito .Em latim, o sujeito vai para o nominativo . O nominativo é, então, o caso que indica a função sintática do sujeito. Em Português, tem-se a flexão de gênero , de número e de grau, com terminações diferentes da palavra para indicar o singular, o plural, o aumentativo e o diminutivo. Em latim, a flexão é de caso, com terminação diferente para as diversas funções sintáticas.

4.2 – Vocativo

É um chamamento ou apelo. Toda vez que se se dirige a alguém, solicitando ou exigindo algo, tem-se vocativo. Quando se diz: aluno, estude mais, há um apelo, um chamado. Aluno é o elemento que indica esse apelo ou chamado. Aluno é vocativo. Outros exemplos: Quer estudar latim, Maria? Aprendam, meninos, a lição. Os termos grifados são vocativos. O vocativo é andarilho, ou seja, pode vir no início , no meio ou no fim da oração. Em latim, o caso do vocativo chama-se, também, vocativo. É bom notar –se que o vocativo vem sempre com um indicador especial: é seguido de vírgula ou precedido de ó (nunca oh , que é usado em frases exclamativas): Ó Deus, onde estais que não me ouvis?

4.3 - Adjunto adnominal restritivo ou complemento de especificação

Mais que um elemento,é um complemento. Indica sempre, através da preposição de , de quem é determinada coisa ou objeto. Restringe a posse de algo. Em o livro de Pedro está encapado, de Pedro é o adjunto adnominal restritivo. Não é todo livro que é encapado; o de Pedro é. Restringe e especifica o possuidor. Daí chamar-se complemento de especificação. Outros exemplos: Comprou-se a fazenda de vovô. O estudo do latim exige raciocínio. O prefeito da cidade é muito ativo. Os termos sublinhados são complementos de especificação. Em latim, o caso desse complemento é o genitivo.

4.4 - Objeto direto e objeto indireto

Antes de mais nada, é bom recordar o que é predicação verbal. Em português, em latim e nas demais línguas o verbo é a palavra mais importante da oração. Ou designa uma ação , ou um estado , ou um fenômeno natural. Na análise sintática ou lógica, o verbo forma o predicado, o elemento essencial para que a frase seja oração. Ele predica, atribui uma ação ou um estado a alguém. Quando a ação fica no sujeito, não transita, não passa para outro elemento, diz-se que é de predicação completa. Em o pássaro canta muito, canta é um verbo de predicação completa. Não exige nada. O significado está nele mesmo. É verbo intransitivo.

Já em preciso de amigos,; estudo latim, o significado verbal sai do sujeito, transita para outro elemento (de amigos, latim). São verbos de significação incompleta. São verbos transitivos, distribuídos em quatro grupos distintos:

  1. Diretamente transitivos - a ação passa para a pessoa ou coisa sobre a qual recai, sem auxílio de preposições: João matou o leão terrível; nossos soldados vencerão o inímigo; o lobo devora o cordeiro A pessoa ou coisa sobre a qual recai a ação do verbo – complemento verbal -, chama-se objeto direto. O leão terrível, o inimigo, o cordeiro são objetos diretos das orações acima. Em latim, o objeto direto vai para o caso acusativo.

  1. Indiretamente transitivos - pedem um complemento verbal através de preposições. É o objeto indireto: o homem depende de Deus; o general gosta dos soldados; o aluno obedece ao professor; recorremos a nossos pais. Dos soldados, ao professor, a nossos pais são objetos indiretos. O objeto indireto em latim vai para o caso dativo. Também vai para o dativo o complemento nominal em português, que é a seqüência de sentido – a integração – de um nome incompleto ( por nome entendem-se o substantivo, o adjetivo e o advérbio). Os nomes incompletos são oriundos de verbos transitivos: nada é difícil para Deus ( difícil = dificultar); o filho é agradecido ao pai ( agradecido = agradecer); temos obstáculos ao ensino do latim ( obstáculos = obstacular). Os termos grifados são complementos nominais; vão para o dativo.

Observação: entende-se por termo uma palavra ou uma expressão ( mais de uma palavra ) com uma função sintática específica.

  1. Duplamente transitivos - exigem não apenas um, mas dois complementos, um direto e outro indireto. São os chamados verbos bitransitivos, ou seja, transitivos diretos e indiretos, simultaneamente:

O educador diz coisas agradáveis e desagradáveis aos educandos” (quem diz, diz alguma coisa a alguém – exige objeto direto / coisas agradáveis e desagradáveis /, e objeto indireto / aos educandos / ). Outros exemplos: as crianças ofertam flores às mães; os romanos ofereciam sacrifícios de animais aos seus deuses; dei um dicionário de latim ao aluno.

d. Verbos de ligação - são verbos de significação incompleta que exigem mais uma união do o que um complemento, pois ligam ( unem ) um nome a outro ( são chamados, também, verbos unitivos ). Este nome unido a outro ou é um estado ou uma qualidade: Pedro é estudioso (qualidade); ele está cansado (qualidade); somos criaturas humanas (estado). Ser, estar, parecer, continuar e outros são verbos que, dependendo do seu emprego, podem ser de ; ligação. O seu complemento ou união é o predicativo, que vai para o caso nominativo, em latim. Exemplos: Pedro é pedra; João permanece calado; a lição continua difícil ( pedra, calado e difícil são predicativos e estão no caso nominativo.

4.5 - Adjunto adverbial

É uma circunstância (situação, momento) que se acrescenta a uma ação verbal ou a um estado e ou qualidade. É um auxiliar (daí ser adjunto - que está junto) do predicado, acrescentando-lhe idéias de situações diferentes, momentos específicos. Há muitos tipos de adjuntos adverbiais:

· Lugar

onde = Estou na sala de aula . ( lugar em que se faz a ação)

donde = Vim de São Paulo. (procedência)

por onde = Passamos por caminhos difíceis. (através dos quais)

para onde = Vamos à escola. (lugar ao qual alguém se dirige)

· Tempo - No verão o sol é mais quente. (quando) Ele é estudioso desde a 1ª série.(há quanto tempo)

· Modo - O tribuno combatia com valor. (maneira)

· Companhia - Voltarei com os amigos. (pessoa com quem se faz uma ação)

· Instrumento ou meio - Trabalho com os braços. (coisa pela qual se faz alguma ação)

· Causa - “Chorai pelos vossos pecados”. (motivo pelo qual se faz alguma coisa)

· Matéria - Corrente de ouro. (substância com que se faz alguma coisa)

O adjunto adverbial tem como caso o ablativo. Nos exemplos supra os termos grifados, em cada exemplo, estão todos no ablativo. Os adjuntos adverbiais são, também, chamados de complementos adverbiais.

4.6 - Predicado - Já se disse que o predicado é o elemento essencial da oração. Há oração sem sujeito, mas não oração sem predicado. É tudo aquilo que é dito do sujeito. É o verbo com aquilo que o acompanha(complemento, adjunto adverbial). É tudo aquilo na oração menos o sujeito. Exemplo: A cibernética, hoje, domina o mundo, incontestavelmente. Tem-se aí: sujeito a cibernética; predicado: hoje, domina o mundo, incontestavelmente.

Quando o sujeito é oculto (subentendido, elíptico), indeterminado (existe, mas não se sabe qual é – não-identificado), inexistente (fenômenos naturais e outros casos específicos) o predicado é toda a oração: somos alunos aplicados – predicado = somos alunos aplicados; vive-se feliz, aqui - predicado = vive-se feliz, aqui; troveja, toda tarde, no verão – predicado = troveja, toda tarde , no verão.

Existem três tipos de predicado:

a) predicado verbal ( quando o verbo é importante – ação): O estudo do latim leva ao conhecimento do português.

b) Predicado nominal (o importante é o nome, com verbo de ligação): O soldado romano era valoroso.

c) Predicado verbo-nominal (uma ação e um estado ou qualidade ao mesmo tempo): O comandante chegou ferido da guerra. (chegou = ação; ferido = estado).

4.7 – Aposto

É um complemento explicativo. Um termo que explica outro termo. Essa explicação vem com ou sem preposição, com ou sem vírgula: Aristóteles, filósofo, é imortal; o general Caxias sempre venceu; a cidade do Rio de Janeiro é maravilhosa. O aposto segue o mesmo caso do substantivo explicado, ou determinado. Em João, aluno de latim, é estudioso, temos:

João = sujeito - caso nominativo

aluno de latim = aposto - caso nominativo

já em Pedro estuda com o colega Altevir, notam-se:

Pedro = sujeito - caso nominativo

com o colega = adjunto adverbial de companhia - caso ablativo

Altevir = aposto - caso ablativo.

4.8 - Adjunto adnominal

É todo artigo, adjetivo, pronome adjetivo, numeral que acompanham um substantivo em sua função sintática e nos seus casos. Na oração o aluno José cumpre seus deveres escolares têm-se os seguintes adjuntos adnominais:

o = adjunto adnominal de aluno (= sujeito – caso nominativo)

seus = adjunto adnominal de deveres ( = objeto direto - caso acusativo)

escolares = adjunto adnominal de deveres ( = objeto direto - caso acusativo)

Em latim, o adjunto adnominal é analisado por muitos como atributo (aqui também ele o será) das diversas funções sintáticas. Estará sempre no mesmo caso dos substantivos que acompanha.

5 - Flexão - Declinação

Algumas classes de palavras (substantivos, adjetivos, pronomes, verbos e alguns numerais) mudam, sofrem alteração no final, ou seja, na última sílaba. São palavras variáveis, pois têm terminações diferentes.

Invariável é a palavra que tem sempre a mesma terminação. A parte final das palavras variáveis chama-se desinência. Radical é a parte da palavra sem a desinência. Na palavra teimoso a desinência “o” pode ser mudada para “a”, “os”, “as”, fazendo teimosa, teimosos, teimosas. Em latim, obtém-se o radical de uma palavra tirando-se-lhe a desinência do genitivo singular, conforme será visto adiante. Flexão de caso é a alteração que a palavra recebe na desinência, conforme a função sintática que tem na oração.

Os substantivos , em latim, estão reunidos em cinco grupos, pois nem todos terminam da mesma maneira. Estes grupos são denominados de declinação. A declinação é um conjunto de flexões de determinado grupo de substantivos. São cinco as declinações, todas com singular e plural. Cada declinação tem um total de doze flexões, seis para o singular e seis para o plural.

Para saber a que declinação pertence uma palavra basta verificar-lhe a desinência do genitivo singular. Os dicionários trazem a palavra no nominativo, em seguida no genitivo, a palavra toda ou somente as letras da desinência. Abaixo está o genitivo singular das cinco declinações:

Declinações 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª

Genitivo sing. ae i is us ei

Exemplos:

rosa, ae (=rosa) lª declinação

Petrus, i (=Pedro) 2ª declinação

fons, fontis (=fonte) 3ª declinação

domus, us (=casa) 4ª declinação

dies, ei (=dia) 5ª declinação

Como já foi visto, para encontrar-se o radical de uma palavra tira-se a desinência do genitivo singular. Assim, tem-se:

nominativo singular genitivo singular radical

rosa rosae ros

Petrus Petri Petr

fons fontis font

domus domus dom

dies diēi di

Importante: ao dizer-se uma palavra, em latim, é necessário declará-la no nominativo e no genitivo. Portanto, diz-se: fons, fontis (=fonte); Maria, Mariae (=Maria); manus, manus (=mão); res, rei (=coisa); dominus, domini (=senhor).