segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Latim uma língua eterna

Latim Básico

Prof. Dr. Miguel Barbosa do Rosário (miguel.rosario@latim-basico.pro.br)

Apresentação

A língua em que um Horácio, um Vergílio, um Catulo, um Cícero escreveram nunca deixará de despertar o interesse, a curiosidade e a paixão daqueles que desejam passar pela experiência estética de os ler no original.

Não somente sob o aspecto literário, no entanto, o latim desperta interesse, mas também sob o aspecto lingüístico, como muito bem ressalta R. Lakoff in Abstract Syntax and Latin complementation:

“The Latin language has been studied probably for a longer uninterrupted period of time, and by more people, than has any other language. Because of its dominance of the intellectual and religious life of Europe over a long period even after it had ceased to be spoken, its grammar has aroused more curiosity than that of any other language.” (p. 1)

“A large and continuing supply of data is vital both for synchronic study of a language at one point in time – as, for example, a study of Ciceronian Latin – and for diachronic work attempting to account for the changes observed in a language over a period of time – such as a study of the differences between Ciceronian Latin and modern Spanish.” (p. 2)

“For these reasons, a study of Latin syntax can yeld valuable information in a number of areas that we could not hope to touch in a study of a modern language, or, for that matter, of any other ancient language.” (p. 2)

(“A língua latina tem sido, provavelmente, estudada por um ininterrupto período de tempo mais longo e por um maior número de pessoas, que qualquer outra língua. Por causa de seu prestígio na vida intelectual e religiosa da Europa durante um longo período, mesmo depois que ela deixou de ser falada, sua gramática tem despertado mais curiosidade do que a de qualquer outra língua.”

“Um grande e ininterrupto fornecimento de dados é vital tanto para um estudo sincrônico de uma língua em um certo ponto no tempo -- por exemplo, um estudo do latim ciceroniano -- como para um trabalho diacrônico, que busque enumerar as mudanças observadas numa língua através de um período de tempo -- como o estudo das diferenças entre o latim ciceroniano e o espanhol atual.”

“Por essas razões, um estudo da sintaxe latina pode render valiosas informações em um número de áreas que não logramos alcançar em um estudo de uma língua moderna ou de qualquer outra língua antiga, sobre esse assunto.”)

É de meu entendimento que o material contido nas lições ora apresentadas fornece ao professor de latim um roteiro seguro, capaz de o ajudar a transmitir a seus alunos as noções básicas da língua latina. A partir da sintaxe chega-se à morfologia. De fato, o desvendamento das estruturas morfológicas mostra que a palavra latina traz em si a indicação de sua função sintática. Na frase, por exemplo, femina uirum uidet‘a mulher vê o homem’, femina traz em si a indicação de que é o sujeito da frase. Essa indicação morfossintática permite que a frase se escreva de outras formas, sem que seu sentido seja alterado: uirum femina uidet, uirum uidet femina, femina uidet uirum, uidet uirum femina, uidet femina uirum. Já o português e as demais línguas românicas perderam essa indicação morfossintática, razão por que a ordem das palavras passou a ser significativa, havendo, portanto, mudança de sentido, se se disser, por exemplo, o homem vê a mulher. Essa simples comparação do latim com o português mostra quão diferente é a manifestação sintática de uma e outra língua. Seu aprendizado, por isso mesmo, se torna fascinante e permite àquele que a estuda o distanciamento necessário para melhor examinar a própria língua nativa.

Além do mais, todos aqueles que desejam apoderar-se do sentido primeiro das palavras não podem deixar de buscar no latim o verivérbio, como a personagem do conto de Guimarães Rosa, Damázio, que fica intrigado com o termo famigerado e viaja longes terras para procurar descobrir o sentido dessa palavra. Vale mesmo a pena transcrever trechos do famoso conto do notável escritor:

— “Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada…”

— “Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado … faz-me-gerado… falmisgeraldo … familhas-gerado…?”

— Famigerado?

— “Sim senhor…”

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

— Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”…

— “Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?”

— Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito…

— “Ah, bem!” — soltou, exultante.

Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.

(ROSA, J. Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 37a. impressão. 1988. p. 13–17.)

G. Rosa se serve do termo famigerado, que dá título ao conto, para construir uma rara peça de humor, graça, erudição. Ele joga com o duplo sentido da palavra, um ligado à sua origem etimológica, do latim fama + gerado, e o outro, à etimologia popular, faminto, sentido que ele esconde de Damázio.

Etimologia é uma palavra de origem grega (etumo ‘verdadeiro’ + logia ‘tratado’) que Cícero traduziu para o latim por ueriloquium e que significa ‘maneira de falar verdadeiro’, i.e., ‘sentido verdadeiro de uma palavra’, o verivérbio de G.Rosa. E essa busca, só consegue fazê-la quem conhece, pelo menos, o latim. Essa espécie de arqueologia lingüística permanece fascinante para o espírito humano.

Feitas essas considerações iniciais, julgo importante tecer alguns comentários sobre a estrutura do livro e sua organização.

Busquei, nesta edição, fornecer ao professor de latim uma seleção de frases de autores significativos do período clássico. Se, por vezes, o autor não se enquadra nesse período, a frase selecionada, no entanto, pertence à estrutura clássica, que é a modalidade examinada no livro.

Algumas recomendações para melhor aproveitar-se o material contido no livro: cumpre, inicialmente, ler em voz alta cada frase, a fim de que o aluno passe a ter o domínio da pronúncia do latim clássico (81 a.C. a 17 d.C.). Essa questão da pronúncia vem discutida no Apêndice do livro. Após a leitura de cada frase, examina-se o seu conteúdo, seu significado, e, se possível, fala-se sobre o autor da frase. A seguir, examina-se a estrutura morfossintática da frase traduzida para o português e, só então, passa-se ao exame da frase latina, dando-lhe as informações gramaticais necessárias para o seu entendimento. Note-se que no corpo de cada lição essas informações estão apresentadas, sem, no entanto, dispensarem complementações, a critério do professor. Ao final de algumas lições estão inseridos textos de autores latinos com sua respectiva tradução. Eles devem ser lidos e comentados.

Com a publicação deste trabalho, quero oferecer aos alunos a oportunidade de terem acesso a uma língua que deixou de ser falada há séculos, mas que permanece viva através de sua vasta literatura e ainda encanta a todos aqueles que a ela têm acesso. Examine-se, a propósito, o que nos diz o filósofo Nietzsche:

“Até hoje não senti com nenhum poeta aquele mesmo êxtase artístico que desde a primeira leitura me proporcionou a ode horaciana. O que aqui se alcançou é algo que, em certos idiomas, nem sequer se pode desejar. Esse mosaico de palavras, onde cada uma delas, como sonoridade, como posição, como conceito, derrama a sua força à direita e à esquerda e sobre o conjunto, esse minimum em extensão e em número de sinais, esse maximum, conseguido desse modo, em energia dos signos – tudo isso é bem romano e, se se me quiser crer, notável por excelência.”

(Nietzsche, F. Crepúsculo dos Deuses, apud Francisco Achcar. Lírica e Lugar-comum. São Paulo: Edusp. 1994.)

Estou plenamente convencido de que quem tem o domínio da gramática do português padrão terá pouca dificuldade em aprender o latim, e quem se aventurar a aprender essa língua tão sonora e tão bela disporá, tenho certeza, de um instrumental rico e precioso, que o acompanhará por toda sua vida.

Dados sobre o autor

Professor Titular de Latim na Escola de Letras da UniverCidade, a partir de 1997.

Professor de Latim no Curso de Letras da Universidade Estácio de Sá.

Professor concursado de Língua e Literatura Latina da Faculdade de Letras da UFRJ, de 1968 a 1996, quando, então, se aposentou como Professor Adjunto.

Professor Titular de Língua e Literatura Latina e de Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Notre Dame, de 1974 a 1981.

Professor de Língua Latina da Universidade Veiga de Almeida, de 1984 a 1988.

Freqüentou, de 1968 a 1970, os cursos de lingüística oferecidos no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, com vista à obtenção do título de Mestre.

Defendeu, aos dez de janeiro de 1989, sua Tese de Doutoramento A Gramática Latina de Francisco Sánchez de las Brozas, tendo obtido de todos os membros da Banca Examinadora o conceito A, com a recomendação de publicação de sua tese. Orientador: Professor Doutor Olmar Guterres da Silveira.

Trabalhou como etimólogo, de 1992 a 1994, no Dicionário Aurélio.

Trabalhou como lexicógrafo no Instituto Antônio Houaiss, nos meses de setembro e outubro de 1997, na seção de etimologia.

Fez parte da equipe que, no ano de 1999, reelaborou o Dicionário da Academia Brasileira de Letras, tendo feito 8.700 verbetes. Coordenação Geral: Professor Doutor Antônio José Chediak.

Gramática latina

Gramática Latina de Naôr Rocha Guimarães

Latim a arte de Raciocinar

1 - Alfabeto

O alfabeto do latim primitivo era formado por 21 letras, as mesmas do português, com a exclusão do J, do V e do Z. Por influência do grego, incluíram-se o K, o Y e o Z. Mais tarde, com o advento das línguas neolatinas, por seu prestígio e mesmo por seu crédito, já para as transcrições literárias, já para a evolução do próprio latim, acresceram-se o J e o V.

2 - Pronúncia do Latim

A pronúncia romana do latim é quase igual à da língua portuguesa, com algumas poucas diferenças:

l. Ae e oe pronunciam-se e. Exs.: – rosae (pr. róse) = as rosas; poena (pr. péna) = castigo.

Obs.: a) e pronunciam-se ae e oe. Exs.: poēta (pr. poeta) = poeta; aēr (pr. á-er) = ar.

b) Mesmo no fim das palavras a vogal e sempre se pronuncia e e a vogal o sempre se pronuncia o.

2. O c diante de e e diante de i tem quase o som de tch (o som de ch inglês em children). Exs.: cinis (pr. tchinis) = cinza; cedĕre (pr. tchédere) = ceder; micae (pr. mitche) = migalhas.

Obs.: o grupo ch tem o som de k. Ex.: architectūra (pr. arkitectura) = arquitetura.

3. O g diante de e e de i soa dg (o som do g inglês em gentleman). Exs.: gero (pr. dgéro) = levo; gigas (pr. dgigas) = gigante.

Obs.: O grupo gn soa como o nh português. Ex.: agnus (pr. ánhus) = cordeiro.

O h não soa nunca. Portanto homo (homem) pronuncia-se ómo; rythmus pronuncia-se ritmus, etc.

O j soa como i (era ignorado pelos romanos). Exs.: juvenis (pr. iuvenis) = jovem; adjutorĭum (pr. adiutórium) = auxílio.

3 - A importância da Análise Sintática no Ensino do Latim

No latim, as palavras mudam a terminação conforme a função sintática que têm na oração. A mesma palavra pode se apresentar de seis maneiras diferentes, pois são seis as funções sintáticas a que está subordinada, uma por vez. Isso se considerarmos só o singular, pois no plural serão mais seis terminações diferentes. Vejam-se os exemplos:

Português Latim

O aluno é aplicado. Discipŭlus diligens est.

O livro do aluno é bonito. Liber discipŭli pulcher est.

Os alunos são aplicados. Discipŭli diligentes sunt.

Os livros dos alunos são bonitos. Libri discipulōrum pulchri sunt.

Não se consegue falar ou escrever em latim se não se fizer a análise sintática, mesmo que seja apenas mentalmente. Cada palavra tem que estar na sua função. É imprescindível que se tenha um bom conhecimento de análise sintática para se aprender o latim.

Para alguns autores, mais que análise sintática seria análise lógica a ser usada na aprendizagem do latim. Uma análise mais apurada, mais detalhada. Contudo uma análise sintática bem estruturada é o mesmo que a análise lógica. As orações, ou proposições são elaboradas, devendo cada palavra estar em sua respectiva função sintática. Isso leva à aplicação exata da terminação.

4 - As Funções Sintáticas e os Casos Latinos

São seis as funções sintáticas que uma palavra pode exercer em uma oração. É bom saber que oração (ou proposição) é uma ou mais palavras que têm sentido completo. Ela é formada por elementos que vêm a ser as funções sintáticas.

Para cada função sintática há, em latim, um caso. Caso é o modo de se escrever uma palavra de acordo com sua função sintática. Há seis casos em latim, pois são seis as funções. Numa oração, podem-se encontrar seis elementos:

· Sujeito

· Vocativo

· Adjunto adnominal restritivo

· Objeto direto

· Objeto indireto

· Adjunto adverbial

4.1 – Sujeito

É o elemento do qual se diz alguma coisa. É o agente de uma ação verbal ou o seu paciente. Em Pedro gosta de análise sintática, Pedro é o elemento ou o agente da ação de gostar. É o sujeito da oração. Já em a análise sintática da oração foi feita por Pedro; a análise sintática é o elemento ou paciente que sofre a ação verbal. É o sujeito .Em latim, o sujeito vai para o nominativo . O nominativo é, então, o caso que indica a função sintática do sujeito. Em Português, tem-se a flexão de gênero , de número e de grau, com terminações diferentes da palavra para indicar o singular, o plural, o aumentativo e o diminutivo. Em latim, a flexão é de caso, com terminação diferente para as diversas funções sintáticas.

4.2 – Vocativo

É um chamamento ou apelo. Toda vez que se se dirige a alguém, solicitando ou exigindo algo, tem-se vocativo. Quando se diz: aluno, estude mais, há um apelo, um chamado. Aluno é o elemento que indica esse apelo ou chamado. Aluno é vocativo. Outros exemplos: Quer estudar latim, Maria? Aprendam, meninos, a lição. Os termos grifados são vocativos. O vocativo é andarilho, ou seja, pode vir no início , no meio ou no fim da oração. Em latim, o caso do vocativo chama-se, também, vocativo. É bom notar –se que o vocativo vem sempre com um indicador especial: é seguido de vírgula ou precedido de ó (nunca oh , que é usado em frases exclamativas): Ó Deus, onde estais que não me ouvis?

4.3 - Adjunto adnominal restritivo ou complemento de especificação

Mais que um elemento,é um complemento. Indica sempre, através da preposição de , de quem é determinada coisa ou objeto. Restringe a posse de algo. Em o livro de Pedro está encapado, de Pedro é o adjunto adnominal restritivo. Não é todo livro que é encapado; o de Pedro é. Restringe e especifica o possuidor. Daí chamar-se complemento de especificação. Outros exemplos: Comprou-se a fazenda de vovô. O estudo do latim exige raciocínio. O prefeito da cidade é muito ativo. Os termos sublinhados são complementos de especificação. Em latim, o caso desse complemento é o genitivo.

4.4 - Objeto direto e objeto indireto

Antes de mais nada, é bom recordar o que é predicação verbal. Em português, em latim e nas demais línguas o verbo é a palavra mais importante da oração. Ou designa uma ação , ou um estado , ou um fenômeno natural. Na análise sintática ou lógica, o verbo forma o predicado, o elemento essencial para que a frase seja oração. Ele predica, atribui uma ação ou um estado a alguém. Quando a ação fica no sujeito, não transita, não passa para outro elemento, diz-se que é de predicação completa. Em o pássaro canta muito, canta é um verbo de predicação completa. Não exige nada. O significado está nele mesmo. É verbo intransitivo.

Já em preciso de amigos,; estudo latim, o significado verbal sai do sujeito, transita para outro elemento (de amigos, latim). São verbos de significação incompleta. São verbos transitivos, distribuídos em quatro grupos distintos:

  1. Diretamente transitivos - a ação passa para a pessoa ou coisa sobre a qual recai, sem auxílio de preposições: João matou o leão terrível; nossos soldados vencerão o inímigo; o lobo devora o cordeiro A pessoa ou coisa sobre a qual recai a ação do verbo – complemento verbal -, chama-se objeto direto. O leão terrível, o inimigo, o cordeiro são objetos diretos das orações acima. Em latim, o objeto direto vai para o caso acusativo.

  1. Indiretamente transitivos - pedem um complemento verbal através de preposições. É o objeto indireto: o homem depende de Deus; o general gosta dos soldados; o aluno obedece ao professor; recorremos a nossos pais. Dos soldados, ao professor, a nossos pais são objetos indiretos. O objeto indireto em latim vai para o caso dativo. Também vai para o dativo o complemento nominal em português, que é a seqüência de sentido – a integração – de um nome incompleto ( por nome entendem-se o substantivo, o adjetivo e o advérbio). Os nomes incompletos são oriundos de verbos transitivos: nada é difícil para Deus ( difícil = dificultar); o filho é agradecido ao pai ( agradecido = agradecer); temos obstáculos ao ensino do latim ( obstáculos = obstacular). Os termos grifados são complementos nominais; vão para o dativo.

Observação: entende-se por termo uma palavra ou uma expressão ( mais de uma palavra ) com uma função sintática específica.

  1. Duplamente transitivos - exigem não apenas um, mas dois complementos, um direto e outro indireto. São os chamados verbos bitransitivos, ou seja, transitivos diretos e indiretos, simultaneamente:

O educador diz coisas agradáveis e desagradáveis aos educandos” (quem diz, diz alguma coisa a alguém – exige objeto direto / coisas agradáveis e desagradáveis /, e objeto indireto / aos educandos / ). Outros exemplos: as crianças ofertam flores às mães; os romanos ofereciam sacrifícios de animais aos seus deuses; dei um dicionário de latim ao aluno.

d. Verbos de ligação - são verbos de significação incompleta que exigem mais uma união do o que um complemento, pois ligam ( unem ) um nome a outro ( são chamados, também, verbos unitivos ). Este nome unido a outro ou é um estado ou uma qualidade: Pedro é estudioso (qualidade); ele está cansado (qualidade); somos criaturas humanas (estado). Ser, estar, parecer, continuar e outros são verbos que, dependendo do seu emprego, podem ser de ; ligação. O seu complemento ou união é o predicativo, que vai para o caso nominativo, em latim. Exemplos: Pedro é pedra; João permanece calado; a lição continua difícil ( pedra, calado e difícil são predicativos e estão no caso nominativo.

4.5 - Adjunto adverbial

É uma circunstância (situação, momento) que se acrescenta a uma ação verbal ou a um estado e ou qualidade. É um auxiliar (daí ser adjunto - que está junto) do predicado, acrescentando-lhe idéias de situações diferentes, momentos específicos. Há muitos tipos de adjuntos adverbiais:

· Lugar

onde = Estou na sala de aula . ( lugar em que se faz a ação)

donde = Vim de São Paulo. (procedência)

por onde = Passamos por caminhos difíceis. (através dos quais)

para onde = Vamos à escola. (lugar ao qual alguém se dirige)

· Tempo - No verão o sol é mais quente. (quando) Ele é estudioso desde a 1ª série.(há quanto tempo)

· Modo - O tribuno combatia com valor. (maneira)

· Companhia - Voltarei com os amigos. (pessoa com quem se faz uma ação)

· Instrumento ou meio - Trabalho com os braços. (coisa pela qual se faz alguma ação)

· Causa - “Chorai pelos vossos pecados”. (motivo pelo qual se faz alguma coisa)

· Matéria - Corrente de ouro. (substância com que se faz alguma coisa)

O adjunto adverbial tem como caso o ablativo. Nos exemplos supra os termos grifados, em cada exemplo, estão todos no ablativo. Os adjuntos adverbiais são, também, chamados de complementos adverbiais.

4.6 - Predicado - Já se disse que o predicado é o elemento essencial da oração. Há oração sem sujeito, mas não oração sem predicado. É tudo aquilo que é dito do sujeito. É o verbo com aquilo que o acompanha(complemento, adjunto adverbial). É tudo aquilo na oração menos o sujeito. Exemplo: A cibernética, hoje, domina o mundo, incontestavelmente. Tem-se aí: sujeito a cibernética; predicado: hoje, domina o mundo, incontestavelmente.

Quando o sujeito é oculto (subentendido, elíptico), indeterminado (existe, mas não se sabe qual é – não-identificado), inexistente (fenômenos naturais e outros casos específicos) o predicado é toda a oração: somos alunos aplicados – predicado = somos alunos aplicados; vive-se feliz, aqui - predicado = vive-se feliz, aqui; troveja, toda tarde, no verão – predicado = troveja, toda tarde , no verão.

Existem três tipos de predicado:

a) predicado verbal ( quando o verbo é importante – ação): O estudo do latim leva ao conhecimento do português.

b) Predicado nominal (o importante é o nome, com verbo de ligação): O soldado romano era valoroso.

c) Predicado verbo-nominal (uma ação e um estado ou qualidade ao mesmo tempo): O comandante chegou ferido da guerra. (chegou = ação; ferido = estado).

4.7 – Aposto

É um complemento explicativo. Um termo que explica outro termo. Essa explicação vem com ou sem preposição, com ou sem vírgula: Aristóteles, filósofo, é imortal; o general Caxias sempre venceu; a cidade do Rio de Janeiro é maravilhosa. O aposto segue o mesmo caso do substantivo explicado, ou determinado. Em João, aluno de latim, é estudioso, temos:

João = sujeito - caso nominativo

aluno de latim = aposto - caso nominativo

já em Pedro estuda com o colega Altevir, notam-se:

Pedro = sujeito - caso nominativo

com o colega = adjunto adverbial de companhia - caso ablativo

Altevir = aposto - caso ablativo.

4.8 - Adjunto adnominal

É todo artigo, adjetivo, pronome adjetivo, numeral que acompanham um substantivo em sua função sintática e nos seus casos. Na oração o aluno José cumpre seus deveres escolares têm-se os seguintes adjuntos adnominais:

o = adjunto adnominal de aluno (= sujeito – caso nominativo)

seus = adjunto adnominal de deveres ( = objeto direto - caso acusativo)

escolares = adjunto adnominal de deveres ( = objeto direto - caso acusativo)

Em latim, o adjunto adnominal é analisado por muitos como atributo (aqui também ele o será) das diversas funções sintáticas. Estará sempre no mesmo caso dos substantivos que acompanha.

5 - Flexão - Declinação

Algumas classes de palavras (substantivos, adjetivos, pronomes, verbos e alguns numerais) mudam, sofrem alteração no final, ou seja, na última sílaba. São palavras variáveis, pois têm terminações diferentes.

Invariável é a palavra que tem sempre a mesma terminação. A parte final das palavras variáveis chama-se desinência. Radical é a parte da palavra sem a desinência. Na palavra teimoso a desinência “o” pode ser mudada para “a”, “os”, “as”, fazendo teimosa, teimosos, teimosas. Em latim, obtém-se o radical de uma palavra tirando-se-lhe a desinência do genitivo singular, conforme será visto adiante. Flexão de caso é a alteração que a palavra recebe na desinência, conforme a função sintática que tem na oração.

Os substantivos , em latim, estão reunidos em cinco grupos, pois nem todos terminam da mesma maneira. Estes grupos são denominados de declinação. A declinação é um conjunto de flexões de determinado grupo de substantivos. São cinco as declinações, todas com singular e plural. Cada declinação tem um total de doze flexões, seis para o singular e seis para o plural.

Para saber a que declinação pertence uma palavra basta verificar-lhe a desinência do genitivo singular. Os dicionários trazem a palavra no nominativo, em seguida no genitivo, a palavra toda ou somente as letras da desinência. Abaixo está o genitivo singular das cinco declinações:

Declinações 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª

Genitivo sing. ae i is us ei

Exemplos:

rosa, ae (=rosa) lª declinação

Petrus, i (=Pedro) 2ª declinação

fons, fontis (=fonte) 3ª declinação

domus, us (=casa) 4ª declinação

dies, ei (=dia) 5ª declinação

Como já foi visto, para encontrar-se o radical de uma palavra tira-se a desinência do genitivo singular. Assim, tem-se:

nominativo singular genitivo singular radical

rosa rosae ros

Petrus Petri Petr

fons fontis font

domus domus dom

dies diēi di

Importante: ao dizer-se uma palavra, em latim, é necessário declará-la no nominativo e no genitivo. Portanto, diz-se: fons, fontis (=fonte); Maria, Mariae (=Maria); manus, manus (=mão); res, rei (=coisa); dominus, domini (=senhor).

6 - Como Analisar Sintaticamente

Analisar uma oração é decompô-la em sua estrutura sintática, ou seja, é fazer um exame do emprego das palavras como termos essenciais (sujeito e predicado), integrantes (complementos) e acessórios (adjuntos). É , também, verificar-lhes o gênero, o número, o caso, a declinação, a desinência, a tradução (latim para o português) e a versão (português para o latim).

Em latim há três gêneros: masculino, feminino e neutro. Se a palavra indicar ser animado é fácil saber se é masculino ou feminino. Agora, se designa coisa pode ser masculina, feminina ou neutra. Por neutro pode-se indicar “nem um nem outro “, nem masculino , nem feminino. Como exemplos notam-se malum, i (=mal); mare, is (=mar); bellum, i (=guerra).

Um método prático, integral e eficiente para analisar uma oração é transcrevê-la verticalmente em suas funções sintáticas e, em colunas paralelas, citar todos os componentes a serem analisados. São seis colunas em que, pela ordem, serão citados: função sintática, gênero, número, caso, declinação, desinência e, no espaço final, a tradução ou a versão. Embaixo do quadro da análise, coloca-se a oração na ordem direta (português) e na ordem inversa (latim).

Eis o quadro:

Oração

Funç.sintát.

Gênero

Número

Caso

Declinação

Desinência

Tradução /versão

Observação: quando a palavra analisada for verbo, a ordem será: função sintática, pessoa, número, tempo e modo, conjugação, desinência.

Até o presente momento, não é possível fazer-se a análise completa de uma oração, pois ainda não se estudaram as declinações e as conjugações verbais. Far-se-á, então, uma série de exemplos sem que se complete o quadro e tão somente do português para o latim. É bom frisar que o gênero da palavra a ser analisada é o gênero latino, caso contrário, em muitas situações, as desinências dos casos estarão erradas. Caso específico da palavra guerra que, em português, é feminina e em latim é neutra. Importante: em latim, não há artigos, razão de aparecerem junto aos substantivos em suas funções.

A vida é um dom de Deus

A vida sujeito feminino singular nominativo

é pred.nominal 3ª pes. singular pres.indic.

um dom predic.sujeito neutro singular nominativo

de Deus compl.especif. masc. singular genitivo

As águas regam a terra

As águas sujeito feminino singular nominativo

regam pred. verbal 3ª pes. plural pres. ind.

a terra objeto direto feminino singular acusativo

A sombra dá alegria aos agricultores

A sombra sujeito feminino singular nominativo

dá pred.verbal 3ª pes. singular pres.indic..

alegria objeto dir. feminino singular acusativo

aos agricultores objeto ind. masculino plural dativo

A lua afugenta a sombra e ilumina a terra

A lua sujeito feminino singular nominativo

afugenta pred.verbal 3ª pes. singular pres. Indic.

a sombra objeto dir. feminino singular acusativo

e conjunção (conetivo ) - palavra invariável

ilumina pred.verbal 3ª pes. singular pres.indic

a terra objeto dir. feminino singular acusativo

Observação: neste exemplo têm-se duas orações, constituindo um período composto, o contrário dos exemplos anteriores em que há somente uma oração, portanto um período simples.

Alunos, o latim é uma língua difícil

Alunos vocativo masc. plural vocativo

o latim sujeito masc. singular nominativo

é pred.nominal 3 ª pes. singular pres.indic.

língua predicativo/.suj. feminino singular nominativo

difícil atributo/pred.suj. feminino singular nominativo

Os meninos maus corrompem os bons ; por meio de péssimos exemplos

Os meninos sujeito masc. plural nominativo

maus atributo/sujeito masc. plural nominativo

corrompem pred. Verbal 3ª pes. plural pres.indic.

os bons objeto dir. masc. plural acusativo

por meio de péssimos atributo/c.meio neutro plural ablativo

exemplos compl. de meio neutro. plural ablativo

Os poetas celebram as glórias dos habitantes das ilhas da Itália

Os poetas sujeito masc.... plural nominativo

celebram pred.verbal 3ª pes. plural pres.indic.

as glórias objeto dir. feminino plural acusativo

dos habitantes complem.especif.masc. plural genitivo

das ilhas complem.especif. feminino plural genitivo

da Itália complem.especif. feminino plural genitivo

Os poetas cantarão os astros, ornamento do céu

Os poetas sujeito masc. plural nominativo

cantarão pred.verbal... 3ª pes. plural pres.indic.

os astros objeto dir. neutro plural acusativo

ornamento aposto/obj. dir. neutro singular acusativo

do céu complem.especif. neutro singular genitivo

Os professores narrarão aos alunos as guerras e as batalhas dos povos antigos

Os professores sujeito masc. plural nominativo

narrarão pred.verbal 3ª pes. plural pres.indic.

aos alunos objeto ind. masc. plural dativo

as guerras objeto dir. neutro plural acusativo

e conjunção (conetivo) palavra invariável

as batalhas objeto dir. feminino plural acusativo

dos povos complem.especif.masc. plural genitivo

antigos atributo/c.espec.. masc. plural genitivo

As pombas e as águias dão alegria aos habitantes das ilhas

As pombas sujeito feminino plural nominativo

e conjunção (conetivo ) palavra invariável

as águias sujeito feminino plural nominativo

dão pred.verbal 3ª pes. plural pres.indic

alegria objeto dir. feminino singular acusativo

aos habitantes objeto ind. masc. plural dativo

das ilhas compl.especif. feminino plural genitivo

Importante - O atributo (adjunto adnominal) vai para o mesmo gênero, o mesmo número e o mesmo caso das funções dos substantivos.

Gramática latina

Primeira Declinação

Os substantivos latinos, como já foi explicado, estão distribuídos em cinco grupos. Afirmou-se, também, que declinação é um conjunto de flexões de cada um destes grupos.

Todos substantivos cujo genitivo singular seja em æ pertencem à primeira declinação. Na sua grande maioria, estes nomes são femininos, salvo alguns poucos do gênero masculino – nomes de homens, de seres do sexo masculino e de alguns rios..

São as seguintes as desinências da 1ª declinação:

Singular Plural

Nominativo a æ

Genitivo æ arum

Dativo æ is

Acusativo am as

Vocativo a æ

Ablativo a is

Observe-se que há muitos casos cujas desinências são iguais no singular e no plural. Isso, contudo, não gera confusão, pois a análise dos termos da oração indica qual o caso em que a palavra está. É muito importante que se raciocine, se pense e se analise para aprender não só o latim, mas qualquer língua, principalmente a língua pátria. Forçando o raciocínio, o latim contribui em muito para o aprimoramento da inteligência, da capacidade e da valorização científica, com a concentração do espírito e da atenção, segundo Napoleão Mendes de Almeida.

Importante - Em latim, as palavras são pronunciadas ou com o acento tônico ( é a sílaba forte - não confundir com acento gráfico) na penúltima sílaba ou na antepenúltima, nunca na última ou na transantepenúltima (antes da antepenúltima). Muitas vezes, para facilitar-se a pronúncia figuram nas palavras os seguintes sinais:

¯ macron - colocado na penúltima sílaba; indica que o acento tônico recai , exatamente, na penúltima sílaba: amābo (amábo = amarei); rosārum ( rosárum = das rosas); formīca (formíca = a formiga); corōna (coróna = a coroa), etc.

˘ brachia (bráquia) - colocado na penúltima sílaba, indica que o acento recai sobre a antepenúltima sílaba: optĭmus (óptimus = ótimo); Helĕna (Élena = Helena); Hippolĭtus (Hipólitus = Hipólito), etc.

Declinar um nome, como já foi dito, é recitá-lo em todos os casos, no singular e no plural. Declinar-se-ão, abaixo, agricŏla, æ (masc. = agricultor); lacrĭma, æ (fem. = lágrima):

Singular Plural

Nom. agricŏl – a agricŏl – æ

Gen. agricŏl - æ, agricol – ārum

Dat agricŏl – æ agricŏl – is

Acus. agricŏl – am agricŏl - as

Voc. agricŏl – a agricŏl – æ

Ablat. agricŏl – a agricŏl - is

Nom. lacrĭm – a lacrĭm – ae

Gen. lacrĭm – æ lacrim – ārum

Dat. Lacrĭm– æ lacrĭm – is

Acus. lacrĭm – am lacrĭm – as

Voc. lacrĭm – a lacrĭm – æ

Ablat. lacrĭm – a lacrĭm – is

À guisa de exercício, declinem-se:

collēga, æ (masc.)= colega nauta, æ (masc.) = marinheiro

poēta, æ (masc.) = poeta incŏla, æ (masc.) = habitante

scurra, æ (masc.) = bobo via, æ (fem.) = rua, estrada

luna, æ (fem.) = lua rosa, æ (fem.) = rosa

ecclesĭa, æ (fem.) = igreja viŏla, æ (fem.) = violeta

tíbĭa , æ (fem.) = flauta porta, æ (fem) = porta

Algumas palavras da lª declinação, no singular, têm um significado e, no plural, podem ter outro significado ou um sentido especial:

Singular Plural

angustĭa, æ = angústia, apuro angustĭæ, arum = desfiladeiro, garganta

cera, æ = cera ceræ, arum = tábuas escritas

copĭa, æ = abundância copĭæ, arum = exércitos, tropas

gratĭa, æ = graça, favor gratĭæ, arum = agradecimentos

opĕra, æ = obra, trabalho opĕræ, arum = operárias

vigĭlia, æ = véspera, (ficar acordado) vigilĭæ, arum = sentinela

Outros nomes, quer comuns, quer próprios, só se usam no plural:

divitĭæ, arum = riqueza indutĭæ, arum = trégua, armistício

nuptĭæ, arum = núpcias tenĕbræ, arum = trevas

Athēnæ, arum = Atenas Syracūsae, arum = Siracusa

Thebæ, arum = Tebas Venetĭæ, arum = Veneza

Observação: em português, também existem nomes usados só plural - óculos, núpcias, Campinas, primícias, Atenas, víveres etc.

8 - Conjugação do Verbo ESSE: Ser, Estar

Modo indicativo

Presente Imperfeito Futuro I (ou imperfeito)

Sou/estou Era/estava Serei/estarei

(ego ) sum eram ero

(tu) es eras eris

(ille) est erat erit

(nos) sumus erāmus erĭmus

(vos) estis erātis erĭtis

(illi) sunt erant erunt

Perfeito Mais-que-perfeito Futuro II (ou anterior)

Fui/estive Fora/estivera Terei sido/terei estado

(ego) fui fuĕram fuĕro

(tu) fuīsti fuĕras fuĕris

(ille) fuit fuĕrat fuĕrit

(nos) fuĭmus fuerāmus fuerĭmus

(vos) fuīstis fuerātis fuerĭtis

(illi) fuērunt fuĕrant fuĕrint

Modo Subjuntivo

Presente Imperfeito

Seja/esteja Fosse/estivesse

(ego) sim essem

(tu) sis esses

(ille) sit esset

(nos) simus essēmus

(vos) sitis essētis

(illi) sint essent

Perfeito Mais –que –perfeito

Tenha sido Tivesse sido

(ego) fuĕrim fuīssem

(tu) fuĕris fuīsses

(ille) fuĕrit fuīsset

(nos) fuerīmus fuissēmus

(vos) fuerĭtis fuissētis

(illi) fuērint fuīssent

Imperativo Infinitivo presente Infinitivo perfeito

Sê/sede – Está/estai Ser/Estar Ter sido/Ter estado

Es (tu) esse fuīsse

Este (vos)

Em latim, os pronomes pessoais retos não são usados; em português, não são obrigatórios; aliás, a linguagem formal evita-os, uma vez que a terminação verbal indica a pessoa (pronome pessoal reto).

9 - Tempos Primitivos (geral)

Em português, os verbos são encontrados no dicionário na forma nominal – infinitivo impessoal: ser, estar, amar, fazer, partir etc. Em latim, o dicionário registra-os nos tempos primitivos (formas primitivas) que são:

1ª pessoa do presente indicativo - sum

2ª pessoa do presente indicativo - es

1ª pessoa do pretérito perfeito - fui

infinito (infinitivo) presente - esse

Assim, o verbo ser / estar aparece no dicionário da seguinte maneira: sum, es, fui, esse = ser, estar. Este verbo, por ser unitivo (de ligação), em determinadas orações, vai exigir sempre o predicativo do sujeito, no caso nominativo. Quando não-unitivo , geralmente, requer adjunto adverbial (complemento de lugar, de modo, de companhia etc ). Obs,: Tempos primitivos serão vistos, de um modo específico, no item 12.

10 - Análise Sintática Completa

Agora, pode-se fazer a análise sintática completa, tanto na tradução (latim para o português), quanto na versão (português para o latim). Vejam-se os seguintes exemplos:

a) versão

Vocabulário

rainha = regīna, æ (f)

prudência = prudentĭa, æ (f)

escrava = ancīlla, æ (f)

águia = aquĭla, æ (f)

pomba = colūmba, æ (f)

filha = filĭa, æ (f)

glória = glorĭa, æ (f)

habitante = incŏla, æ (m)

ilha = insŭla, æ (f)

alegria = lætitĭa, æ (f)

pátria = patrĭa, æ (f)

marinheiro = nauta, æ (m)

vitória = victorĭa, æ (f)

covardia = ignavĭa, æ (f)

vida = vita, æ (f)

fortuna = fortūna, æ (f)

rosa = rosa, æ (f)

tristeza = tristitĭa, æ (f)

e = et (conjunção)

A rainha está na ilha dos agricultores

.

A rainha suj. fem. sing. nom. lª decl. a regīna

está pred.verbal 3ª pes. sing. pres.ind v.esse st est

na ilha c.lugar(onde) fem. sing....... in+abl. 1ª.decl. a in insŭla

dos agricultores c.especif. masc. plur. gen. 1ª decl. arum agricolārum

Regina in insŭla agricolārum est. (ordem indireta)

Nota: O verbo ser/estar (esse) quando não é unitivo forma predicado verbal;

o complemento de lugar onde (adjunto adverbial) vai para o caso ablativo precedido da preposição in. Na ordem inversa , no latim, o verbo fica no final da frase.

A filha do habitante da ilha é serva (criada) da rainha.

A filha sujeito fem. sing. nom. 1ª decl. a filĭa

do habitante c.especif. masc. sing. gen. 1ª decl. æ incŏlæ

da ilha c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ insŭlæ

é pred.nom. 3ª pes. sing. p..ind. v.esse st est

serva predic.suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a ancīlla

da rainha c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ regīnæ

Filĭa incŏlae insŭlae regīnae ancīlla est.

A vitória será a glória dos marinheiros da pátria.

A vitória suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a victorĭa

será pred.nom. 3ª pes. sing. fut.I v.esse it erit

a glória predic.suj. fem.. sing. nom. 1ª decl. a glorĭa

dos marinheiros c.especif. masc. plur. gen. 1ªdecl. arum nautārum

da pátria c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ patrĭæ

Victoria nautarum patriae gloria erit.( o predicativo vem antes do verbo)

A águia e a pomba eram habitantes da ilha.

A águia suj. fem. sing. nom. 1ªdecl. a aquĭla

e conjunção palavra indeclinável et

a pomba. suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a colūmba

eram pred.nom. 3ª pes. plur. imp.ind. v.esse nt erant

habitantes predic.suj. masc. plur. nom. lª decl. æ incŏlæ

da ilha c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ insŭlæ

Aquĭla et colūmba insŭlae incŏlae erant.

A riqueza (fortuna) da rainha foi a alegria aos habitantes da pátria.

A riqueza suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a fortūna

da rainha c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ regĭna

foi pred.nom. 3ª pes. sing. perf.ind v.esse it fuit

a alegria predic.suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a lætitĭa

aos habitantes c.nominal masc. plur. dat. 1ª decl. is incŏlis

da pátria c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ patrĭæ

Fortūna regīnae incolis patrĭae laetitĭa fuit.

b) tradução

Deve-se, sempre, começar a análise pelo verbo (predicado), pois indicará, além da pessoa, do tempo e do modo, a predicação verbal (transitivo, intransitivo, unitivo), mostrará os casos: do sujeito (nominativo); dos complementos verbais (acusativo, dativo). Daí a sua importância.

Vocabulário

experientĭa , æ (f) = experiência

magistra, æ (f) = mestra

sapientĭa, ae (f) = sabedoria

pugna, æ (f) = batalha, combate

puēlla, æ (f) = menina, moça

pigritĭa, æ (f) = preguiça

domĭna, æ (f) = senhora

lingŭa, æ (f) = língua

dea, æ (f) = deusa

præda, æ (f) = presa, vítima

ala, æ (f) = asa

fuga, æ (f) = fuga

umbra , æ (f) = sombra

luna, æ (f) = lua

terra, æ (f) = terra

justitĭa, æ (f) = justiça

vita, (f) = vida

sæpe = muitas vezes - palavra indeclinável

semper = sempre - palavra indeclinável

amicitĭa, æ (f) = amizade

discipŭla, æ (f) = aluna; discípula

schola, æ (f) = escola, aula

ac = e - conjunção/palavra indeclinável

silva, æ (f) = floresta, bosque

aqŭa , ae (f) = água

tuba, æ (f) = trombeta

Experientĭa magīstra vitae est.

Experientĭa sujeito. fem. sing. nom. 1ª decl. a a experiência

magīstra predic.suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a a mestra

vitae c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ da vida

est pred.nom 3ª pes. sing . p.ind . v.esse st é

A experiência é a mestra da vida (ordem direta)

Sapientĭa poetārum patrĭæ glorĭa erit

Sapientĭa suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a a sabedoria

poetārum c.especif. masc. plur. gen. 1ª decl. arum dos poetas

patrĭæ c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ da pátria

glorĭa predic.suj. fem. plur. nom. 1ª decl. a glória

erit pred.nom. 3ª pes. sing. fut.I v.esse it será

A sabedoria dos poetas será a glória da pátria.

Sæpe colūmbæ aquilārum præda sunt

.

Sæpe c.advl.tempo palavra indeclinável muitas vezes

colūmbæ sujeito fem. plur. nom. 1ª decl. æ as pombas

aquilārum c.especif. fem. plur. gen. 1ª decl. arum das águias

præda predic.suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a presa

sunt pred.nom. 3ª pes. plur. p.ind. v.esse unt são

Muitas vezes, as pombas são presa das águias.

Experientĭa dominārum insŭlæ puēllis sapientĭa et justitĭa est

.

Experientĭa sujeito fem. sing. nom. 1ª decl. a a experiência

dominārum c.especif. fem. plur. gen. 1ª decl. arum das senhoras

insŭlæ c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ. da ilha

puēllis c.nominal fem plur. dat. 1ª decl. is às moças

sapientĭa predic.suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a sabedoria

et conjunção palavra indeclinável e

justitĭa predic.suj. fem. sing nom. 1ª decl a justiça

est pred.nom. 3ª pes. sing. p.ind. v.esse st é

A experiência das senhoras da ilha é sabedoria e justiça às moças.

Fuga umbræ lunæ incŏlis insŭlæ vita et lætitĭa est

Fuga sujeito fem. sing. nom. 1ª decl. a a fuga

umbræ c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ da sombra

lunæ c.especif. fem. sing. gen. 1ª decl. æ da lua

incŏlis c.nominal masc. plur. dat. 1ª decl. is aos habitantes

vita predic.suj. fem. sing. nom. 1ªdecl. a vida

et conjunção palavra indeclinável e

lætitĭa predic.suj. fem. sing. nom. 1ª decl. a alegria

est pred.nom. 3ª pes. sing. p.ind. v.esse st é

A fuga da sombra da lua é vida e alegria aos habitantes da ilha.

11 - Verbo e Conjugações

Em latim, existem quatro conjugações. A primeira tem o infinito presente (infinitivo impessoal) em āre; a segunda em ēre; a terceira em ĕre; a quarta em īre.

Os verbos têm as conjugações ativa e passiva separadamente. A voz passiva tem a sua conjugação própria, diferente do português. Assim as quatro conjugações são estudadas, separadamente, na voz ativa e na passiva.

1ª conjugação - amāre (mare) = amar

2ª conjugação - delēre (delére) = destruir

3ª conjugação - legĕre (légere) = ler

4ª conjugação - audīre (audíre) = ouvir

12 - Tempos Primitivos (específico)

São os tempos básicos dos quais derivam os outros chamados primitivos. Como já foi visto no verbo Esse (sum), os tempos primitivos são os encontrados no dicionário e são:

1ª pessoa singular do presente do indicativo;

2ª pessoa singular do presente do indicativo;

1ª pessoa singular do pretérito perfeito;

supino (não há no verbo Esse);

infinito presente (infinitivo impessoal).

Supino - é uma forma especial do infinitivo. Indica uma finalidade e é terminado em tum: amātum (para amar); delētum (para destruir); lectum (para ler); audītum (para ouvir).

Veja-se o quadro abaixo dos tempos primitivos nas quatro conjugações:

Tempos primitivos 1ª conjug. 2ª conjug. 3ª conjug. 4ª conjug.

1ª pes.sing.do indic.presente amo delĕo lego / capĭo audĭo

2ª pes.sing.do indic.presente amas deles legis / capis audis

1ª pes.sing.do pret. perf. indic. amāvi delēvi legi / cepi audīvi

supino amātum delētum lectum / captum audītum

infinito presente (infin.impes.) amāre delēre legĕre / capĕre audīre

A terceira conjugação tem verbos também em io; razão de aparecer no quadro o verbo capĭo, capis, cepi, captum, capĕre = tomar, apanhar.