quinta-feira, 24 de maio de 2012

O POVO CATÓLICO DE PORTO VELHO VENERAM A VIRGEM MARIA AUXILIADORA


Domǐna auxiliatora sactissima Virginis Maria, quem Deus constituta Auxiliatora Christianorum. Benedictus Christiani qui a mater ... Nos sunt Christianorum catholici , nos sunt non orphanis. Non dea, sed mater nostra. Nobis unus Deus Filium suum Iesum Christum. Deus et filius Dei.



quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Latus Cultus reverencia o poeta mais assobrado com a dor do mundo que conheço, Cleilson Pereira Ribeiro.


Certidão Nordestina


Sobrou a lama no chão
Do açude que evaporou
Quando a seca chegou
E estorricou o sertão.
O grão vingou mal nascido,
Sem tempo de ser lutrido
perdeu seu sal seu amido
Virou um triste torrão.
A flor que brotou na terra
Brigou, lutou e fez guerra
Não pode a seca vencer,
do céu não choveu fartura,
nasceu só pés de amarguras
pro nordestino colher.

Quem sofre passando fome
Leva nos peitos essa vida
Num estirão de feridas
Semeia a flor de seu nome
Eu mesmo sei por que noto,
A feira livre dos votos,
Na eleições e anoto,
Em meu caderno o padicer
Vejo essa gente valente
Sem pão, sorriso, sem dente
a dignidade vender.
São mais quatro anos de peia
Suando nas terras alheias
Lambendo o sal do sofrer.


A certidão nordestina
Trago nos couro gravada
São calos, cortes, topadas
Nas linhas tortas da sina,
Os traços do meu avô
No meu genoma pousou,
E seu Dna se afincou
No chão que nem longarina
É rastro de caninana
Ferrão de italiana
saudade dor lazarina
é labareda escrevida
nas brocas da minha vida
nas tirnas das lamparinas.

Vivendo só de conversa
O nordestino, coitado
Sonhando quer seu bocado,
Sem ter que ouvir mais promessa
Que um dia a nossa vida,


Vivendo só de conversa
O nordestino, coitado
Sonhando quer seu bocado,
Sem ter que ouvir mais promessa
Que um dia a nossa vida,
Será mais farta e surtida
A terra bem dividida,
Pra trabalhar e colher.
E já que nesse lugar
Em se plantando se dar,
Melhor é a gente fazer
Um adjunto e plantar
Pé- de- vergonha, e sonhar
pra melhorar o viver.
Plantar o grão da verdade
Prum dia a honestidade
Servir pro povo comer.

de Cleilson Pereira Ribeiro

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Nossas raizes



BRASIL: A TERRA DE SANTA CRUZ

PORTUGAL: O PORTO DE PARTIDA DE NOSSA HISTÓRIA E A RAIZ PRINCIPAL DE NOSSA CULTURA

ANGOLA: UMA DAS RAIZES DE NOSSA CULTURA

MOÇAMBIQUE: NOSSA VEIA MUSICAL TEM ALGO MOÇAMBICANO

CONGO: NO SANGUE DE MUITOS BRASILEIROS CORRE A FORÇA DOS BANTUS

SENEGAL: SUA HERANÇA É MAIS FORTE NA BAHIA

NIGÉRIA: SUAS RAIZES ESTAM EM NOSSA CULINÁRIA

Assim como não podemos esquecer nossa herança portuguesa também não devemos esquecer nossa herança africana. Mas, os brasileiros conhecem muito pouco da África. Ela é uma famosa desconhecida. Famosa porque está sempre sendo mencionada porém invariavelmente pouco se conhece acerca da mesma. No Brasil, dela temos pouco mais que as imagens veiculadas pelos meios de comunicação de maneira fragmentada e ligadas a aspectos exóticos ou a conflitos armados. A outra África presente no Brasil é a “Mama-África” idealizada para servir a legítimos movimentos de afirmação cultural, mas que igualmente acabam por reforçar estereótipos e preconceitos que perenizam nossa ignorância em relação ao continente e aos seus múltiplos povos e culturas. Esta não é uma situação nova. Na verdade um longo processo histórico fundado na ideologia do branqueamento racial foi levado à cabo não só para desqualificar os afrodescendentes como para apagar a África da memória dos
brasileiros. Esta na hora de nos voltarmos para a África buscando valorizar a nosso herança africana. Afinal, somos na grande maioria herdeiros de três raças: do Ameríndio, do branco lusitano e dos filhos da África.

terça-feira, 15 de maio de 2012

A DOR NOSSA DE CADA DIA.








Esta seria uma definição de dor, é uma sensação desagradável, que varia desde desconforto leve a excruciante, associada a um processo destrutivo atual ou potencial dos tecidos que se expressa através de uma reação orgânica e/ou emocional. E que ela pode ser agunda ou cronica. No Brasil a dor ainda é vista por alguns médicos como algo meramente psíquico. Um estudo realizado em 2000 pela equipe do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo mostrou que 99% das dores são orgânicas(físicas) e não psicológicas como se acreditavam que fosse, mas de acordo com este estudo apenas 1% das dores são emocionais(psíquicas). Este estudo também nos revelou juntamente com outras pesquisas pelo o Brasil a fora que somos um dos povos no mundo que mais sentir dores, e que o atendimento muitas vezes é desumano por parte do profissional e da rede pública de saúde. Outra coisa revelada neste estudo é em outros realizados nos últimos decénios é que existe tratamento para 100% dos casos de dor que chegam aos médicos todos os dias. Porém, nossos médicos muitas vezes não tem conhecimento do tratamento e de seus procedimentos, ignora por falta de conhecimento. Há um velho provérbio: “quem não sabe o que faz, faz o que sabe.” Por tudo isso, continuam vendo a dor como algo meramente psicológico. Segundo o jornalista Rodrigo Vergara na edição 170 da Superinteressante de novembro de 2001,”os brasileiros convivem com a dor como poucos povos no mundo.” Vergara nos mostra nesta sua matéria, que 85% das visitas aos médicos no Brasil são motivadas pela dor, e que os pacientes acometidos por dor crônica do câncer, não encontram alívio na rede pública, ele ainda salienta que os nossos pacientes de cêncer estão entre os que mais sofrem dores na América do Sul. Estes quando comparados com os pacientes de câncer da Suécia, descobriu-se que não recebem um décimo da dose de morfina recebida por um paciente daquele país nórdico. Sem contar que nosso hospitais públicos são surreais, dantescos, horrendos,... Em sua grande maioria em todo o país. Havendo poucas exceções aqui e ali de unidades humanizadoras. A negligência a dor é uma realidade no Brasil de norte a sul, a dor é legitimada e alimentada por um sistema único de saúde mal gerido por gestores, hora incompetentes, hora corruptos. Muitas vezes há recursos, mas a corrupção não deixa que estes recursos sejam usado na prevenção, na cura ou no alívio da dor. É inegável, que a realidade da saúde no Brasil é surreal. Nossos doentes convivem com a dor física, psíquica e moral. As nossas dores de cada dia.



de José Cícero Gomes

sábado, 12 de maio de 2012

Feliz dia das mães!

O latuscultus deseja a todas as mães do Brasil, da América latina e do mundo um dia das mães repleto de paz, sorrisos e luz. Feliz dia das mães!

A ORIGEM DO DIA DAS MÃES


O DIA DAS MÃES


Segundo os estudiosos de mitologia a mais antiga celebração à maternidade pode ter sido na Grécia antiga, que festejava a fertilidade e a entrada da primavera em honra de Réia, a Mãe mítica dos Deuses. Outro relato de celebração para aquela que gerou a vida (a genitora), só se tem por volta de 1600, na Inglaterra. Onde celebravam o "Mothering Day", toda festa que se presa tem comes e bebes, por mais humilde que seja a festa e seus participantes, foi nesta festividade que se deu a origem do "mothering cake", um bolo para as mães que tornaria o dia ainda mais alegre, saboroso e feliz. um dia chamado “Domingo da Maternidade" que era comemorado no quarto domingo da Quaresma. Naquela época, muitos dos pobres da Inglaterra trabalhavam como servos para os ricos. Como a maioria dos postos de trabalho estava longe de suas casas, os empregados que viviam nas casas de seus empregadores. No Mothering Sunday, muitos receberam o dia d

e folga e iam passar o dia com quem mais amavam os solteiros com suas mães e os casados com as mães dos seus filhos, no caso das mães trabalhadoras aproveitavam o dia de folga para passar com seus filhos e com suas mães. Os empregados domésticos geralmente recebiam um bolo que podiam levar para casa, era um bolo especial chamado the Cake Mothering. Nas nações católicas europeias homenageavam a “mãe igreja”, porém como passar do tempo os cristãos católicos romanos passaram a homenagearem suas genitoras neste dia festivo da igreja de Roma. Nos Estados Unidos, as primeiras sugestões em prol da criação de uma data para a celebração das mães foi dada em 1872 pela escritora Júlia Ward Howe, autora de "O Hino de Batalha da República". Mas foi outra americana, Ana Jarvis, no Estado da Virgínia Ocidental, que iniciou a campanha para instituir o Dia das Mães. Em 1905 Ana, filha de pastores, perdeu sua mãe e entrou em grande depressão. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas tiveram a ideia de perpetuar a memória de sua mãe com uma festa. Ana quis que a festa fosse estendidas a todas as mães, vivas ou mortas, com um dia em que todas as crianças se lembrassem de e homenagear suas mães. A ideia era fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais. Durante três anos seguidos, Anna lutou para que fosse criado o Dia das Mães. A primeira celebração oficial aconteceu somente em 26 de abril de 1910, quando o governador de Virgínia Ocidental, William E. Glasscock, incorporou o Dia das Mães ao calendário de datas comemorativas daquele estado. Rapidamente, outros estados norte-americanos aderiram à comemoração. Finalmente, em 1914, o então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1913-1921), unificou a celebração em todos os estados, estabelecendo que o Dia Nacional das Mães deveria ser comemorado sempre no segundo domingo de maio. A sugestão foi da própria Anna Jarvis. Em breve tempo, mais de 40 países adotaram a data.

"Não criei o dia das mães para ter lucro"


O sonho foi realizado, mas, ironicamente, o Dia das Mães se tornou uma data triste para Anna Jarvis. A popularidade do feriado fez com que a data se tornasse uma dia lucrativo para os comerciantes, principalmente para os que vendiam cravos brancos, flor que simboliza a maternidade. "Não criei o dia as mães para ter lucro", disse furiosa a um repórter, em 1923. Nesta mesmo ano, ela entrou com um processo para cancelar o Dia das Mães, sem sucesso.

Anna passou praticamente toda a vida lutando para que as pessoas reconhecessem a importância das mães. Na maioria das ocasiões, utilizava o próprio dinheiro para levar a causa a diante. Dizia que as pessoas não agradecem freqüentemente o amor que recebem de suas mães. "O amor de uma mãe é diariamente novo", afirmou certa vez. Anna morreu em 1948, aos 84 anos. Recebeu cartões comemorativos vindos do mundo todos, por anos seguidos, mas nunca chegou a ser mãe.

Cravos: símbolo da maternidade

Durante a primeira missa das mães, Anna enviou 500 cravos brancos, escolhidos por ela, para a igreja de Grafton. Em um telegrama para a congregação, ela declarou que todos deveriam receber a flor. As mães, em memória do dia, deveriam ganhar dois cravos. Para Anna, a brancura do cravo simbolizava pureza, fidelidade, amor, caridade e beleza. Durante os anos, Anna enviou mais de 10 mil cravos para a igreja, com o mesmo propósito. Os cravos passaram, posteriormente, a ser comercializados.

No Brasil

O primeiro Dia das Mães brasileiro foi promovido pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre, no dia 12 de maio de 1918. Em 1932, o então presidente Getúlio Vargas oficializou a data no segundo domingo de maio. Em 1947, Dom Jaime de Barros Câmara, Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro, determinou que essa data fizesse parte também no calendário oficial da Igreja Católica.


Fonte de pesquisa:

BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da: MITOLOGIA, histórias de deuses e heróis. Ediouro. Rio de janeiro: 2006.

http://www.portaldafamilia.org/artigos/texto026.shtml acesso em 11/05/2012.

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/dia-das-maes/dia-das-maes-4.php acesso em 11/05/2012.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Eneida de Virgílio


Eneida, o poema da fundação mítica de Roma, escrito há mais de dois mil anos pelo poeta latino Públio Virgílio Marão, acaba de ganhar nova edição da Martins Fontes (coleção Biblioteca). O texto foi vertido do latim pelo filólogo português José Victorino Barreto Feio e José Maria da Costa e Silva.

Sangue e fogo sobre a terra. Homens e deuses guerreando. Fúria de tempestades sobre frágeis naus. Combates em campo aberto, corpo a corpo. A morte no encalço. Crânios e ossos triturados. Dor. Honra, dever e ambição. Amores contrariados e traições. Desígnios, destinos, fados. Estes são alguns dos ingredientes que conformam um dos mais belos poemas de todos os tempos, contando a fuga do guerreiro Enéias, quando da queda de Tróia, suas aventuras e desventuras pelo mar Mediterrâneo, seu encontro com Dido, rainha de Cartago, e o destino que lhe estava prometido: criar uma nova cidade e um novo povo. Eneida traz as peripécias de Enéias, escritas há dois mil anos por Virgílio.

O poema é um conjunto de doze cantos, o primeiro contando a derradeira noite de Tróia, que caiu, após um cerco de dez anos, depois que o grego Ulisses usou o artifício do cavalo de madeira para penetrar os muros da cidade. Enéias é um dos poucos a sobreviver. Carregando seu pai, o velho Anquises, nos ombros, e tomando pela mão seu único filho, Ascânio, Enéias parte para cumprir uma profecia: no reino de Latino, cravado na ''bota'' plantada no mar Mediterrâneo, haveria de nascer a cidade mais poderosa do mundo. E Enéias seria a semente de sua fundação. Eneida começa onde termina a Ilíada, o poema épico de Homero sobre a guerra de Tróia, também conhecida por Ílio. A saga homérica continua na Odisséia, que vai tratar das viagens de Ulisses, ou Odisseu, e suas aventuras até voltar, vinte anos depois, à sua ilha de Ítaca.

Pois, o que o romano Virgílio, tomando como modelo o grego Homero, conta na Eneida é a fundação mítica de Roma. O que ele canta é o nascimento do mais duradouro império que já reinou sobre a terra: mil anos. ''Eu canto as armas e o varão primeiro/ que, prófugo de Tróia por destino/ à Itália e de Lavínio às praias veio''. A obra de Virgílio é também fundamento da latinidade, a cultura que se espalhou por todo o Velho Mundo, da Ásia à África e Europa. O livro de Virgílio está na base de outros poemas épicos, como Divina Comédia, de Dante, Paraíso Perdido, de Milton, Os Lusíadas, de Camões, e mais modernamente do poema Mensagem, de Fernando Pessoa, ou do contemporâneo Invenção do Mar e Os Peãs, ambos do poeta cearense Gerardo Mello Mourão.

A editora Martins Fontes, através do selo Biblioteca, acaba de lançar nova reedição daEneida de Virgílio, com tradução do latim feita pelo filólogo português José Victorino Barreto Feio, latinista do século 19. Os quatro cantos finais foram traduzidos por José Maria da Costa e Silva, amigo de Feio, falecido antes de concluir o trabalho. A edição é organizada por Paulo Sérgio de Vasconcellos (que assina as ''orelhas'' e o estudo introdutório).

A Loba. O outro nome de Roma. Símbolo da cidade, bem dizer, o seu sinônimo, é a figura desta fera lupina que acolhe e aleita os gêmeos Rômulo e Remo, filhos da sacerdotisa Ília e do deus Marte. Não é de estranhar que Roma nasça sob o signo do sangue e da guerra fratricida: o pai mítico, Marte, é o senhor da guerra. E Rômulo mata seu irmão, tomando o poder da futura capital do império dos césares. O fio do novelo começa em Ascânio (também chamado Iulo e daí Júlio), o filho de Enéias, do qual descendem os reis albanos e, destes, os gêmeos abandonados à beira do rio Tibre, salvos porque uma loba os alimentou. Mas, até que isto aconteça, há o poema - a saga de Enéias, a Eneida.

Fontes: http://www.jornaldepoesia.jor.br/eneida.pdf

http://pt.scribd.com/doc/23628378/Virgilio-Maron-Publio-La-Eneida-Bilingue

1. Eneida de Virgílio

ENEIDA

Virgílio

Tradução: Tassilo Orpheu Spalding

Eles iam, obscuros, através da noite solitária, através da sombra e através das moradas vazias e do vão reino de Dite: tal é o caminho nos bosques, quando a lua é incerta, sob uma luz maligna, quando Júpiter mergulhou o céu na sombra e a sombria noite arre­batou às coisas sua cor.

No próprio vestíbulo, à entrada das gargantas do Orco, o Luto e os Remorsos vingadores puseram seus leitos; lá habitam as pálidas Doenças, e a triste Velhice, e o Temor, e a Fome, má con­selheira, e a espantosa Pobreza, formas terríveis de se ver, e a Morte, e o Sofrimento; depois, o Sono, irmão da Morte, e as Alegrias perver­sas do espírito, e, no vestíbulo fronteiro, a Guerra mortífera, e os férreos tálamos das Eumênides, e a Discórdia insensata, com sua cabeleira de víboras atada com fitas sangrentas.

No meio, um olmeiro opaco, enorme, estende seus ramos e seus galhos seculares, morada, diz-se, que freqüentam comumente os Sonhos vãos, fixados sob todas as suas folhas. Além disso, mil fan­tasmas monstruosos de animais selvagens e variados aí se encontram: os Centauros, que têm seus estábulos nas portas, e as Cilas biformes, e Briareu hecatonquiro, e o monstro de Lema, assobiando horrivel­mente, e a Quimera armada de chamas, e as Górgonas, e as Harpias, e a forma da Sombra de tríplice corpo.

Tremendo com súbito espanto, Enéias desembainha sua es­pada e apresenta a ponta acerada aos monstros que avançam; e se a sua douta companheira não o advertisse de que se tratava de tênues almas sem corpo, que volitavam sob um envoltório sem consistência, ter-se-ia precipitado sobre elas e em vão feriria as sombras com o ferro.

Daqui começa o caminho que conduz às ondas do Aqueronte do Tártaro: é um golfo que borbulha, vasto abismo de lodo que re­ferve e que vomita todo seu limo no Cocito. Um barqueiro horrendo guarda estas águas, e os rios, Caronte, de terrível sujidade, cuja barba abundante, branca e mal tratada, lhe cai do queixo; seus olhos cheios de chamas são fixos; pende-lhe das espáduas o sórdido manto amar­rado com um nó. Por meio de uma vara impele a embarcação, diri­ge-a com a vela e transporta os corpos na barca cor de ferrugem; já é idoso, mas sua velhice é sólida e vigorosa como a de um deus. Toda a multidão ali espalhada corria para a margem, mães e homens e corpos de magnânimos heróis, privados da vida, meninos e virgens e mancebos colocados nas fogueiras ante os olhos dos pais, tão nume­rosos como as folhas que giram e caem nos bosques ao primeiro frio do outono; tão numerosos como os pássaros que se agrupam, vindos do alto-mar para o continente, quando a fria estação os faz fugir atra­vés do oceano e os expulsa para as terras soalheiras. Agrupados, pe­diam que fossem os primeiros a passar, e estendiam as mãos na ânsia de atingir a outra margem. Mas o triste barqueiro acolhe ora estes, ora aqueles, e afasta para longe das margens aqueles que recusou.

Enéias, que este tumulto espanta e comove, interpela a Sibila: “Ó virgem, explica-me o que quer esta multidão junto do rio. Que pedem estas almas? Por que discriminação algumas são afastadas da margem ao passo que outras varrem com os remos essas ondas lívi­das?” A velha sacerdotisa lhe responde abreviadamente: “Filho de Anquises, prole certíssima dos deuses, vês os marnéis profundos do Cocito e os paludes do Estige, cujo poder os deuses temem perjurar. Toda essa multidão que vês, são pobres que ficaram sem sepultura; aquele barqueiro é Caronte; aqueles que a onda conduz foram os sepultados. Não lhe é permitido transportar os mortos para as mar­gens horríveis por cima das roucas ondas, antes que seus ossos te­nham encontrado a paz do túmulo. Durante cem anos as almas erram e volitam ao longo dessas margens. Somente então, tendo sido admi­tidas, vêem por sua vez os marnéis tão desejados”. O filho de Anqui­ses se deteve na sua marcha, pensativo, deplorando no seu

2. Eneida de Virgílio



coração a sorte iníqua daquelas sombras. Lá ele vê, afligidos e privados das honras da morte, Leucáspide e o chefe da armada lícia, Orontes, que, partidos de Tróia com ele e sacudidos pelos mares tempestuosos, foram assaltados pelo Austro e engolidos na água com navios e homens.

Eis que se aproximava o piloto Palinuro, que outrora, na travessia do mar da Líbia, caíra da popa quando observava as cons­telações, e havia desaparecido no seio das ondas. Apenas Enéias reconheceu na sombra espessa o seu aflito amigo, dirigiu-lhe por pri­meiro a palavra: “Qual dentre os deuses, Palinuro, te arrebatou de nós e te mergulhou no seio da líquida planície? Vamos, dize. Pois Apolo, que anteriormente por mim nunca foi considerado mentiroso, enganou o meu espírito respondendo-me e prognosticando que nada havia a temer do mar e que chegarias aos confins da Ausônia. E assim que mantém a sua palavra?” Palinuro responde-lhe: “Não, o tripé de Febo não te enganou, filho de Anquises, meu chefe, e um deus não me mergulhou na líquida planície. Pois o leme cuja guarda me confiaste e ao qual estava agarrado com muita força, a fim de dirigir a tua rota, rompeu-se por acaso sob um golpe violento; preci­pitado, levei-o comigo. Juro pelos mares tempestuosos que não tive medo por mim, mas sim por teu navio, despojado de aparelhos e privado de piloto, não fosse ele capaz de resistir às tão grandes ondas que se erguiam. Durante três noites de tempestade, o Noto desen­freado por entre a imensidade da líquida planície me carregou sobre as águas; a custo, no quarto dia nascente, erguido no ar, na crista dum vagalhão, vi a Itália diante de mim. Nadava, aproximando-me pouco a pouco da terra; e já estaria em segurança, se gente bárbara, em me vendo com minhas vestes encharcadas, pesado de água, ten­tando agarrar com minhas mãos crispadas as saliências ásperas dum promontório, não tivesse caído sobre mim na ilusória esperança de despojos. Agora, presa da onda, os ventos me arremessam para a praia. Isto te peço, pela agradável luz do céu e pelos ares, por teu pai e pela esperança de Iulo que cresce, livra-me destes males, ó herói invencível: ou dá meu corpo à sepultura, pois tu podes, e procura o porto de Vélia, ou, se há outro meio, se a deusa tua mãe te indicar um (pois não é, creio, sem a vontade dos deuses que te preparas para atravessar tão grande rio e o mamei do Estige), estende tua mão a um infeliz e leva-me contigo através destas ondas, para que ao menos na morte descanse numa plácida morada”.

Tais eram as palavras que havia pronunciado, quando a sacer­dotisa começou: “Donde te vem, ó Palinuro, tão feroz desejo? Tu, que não foste inumado, tu verás as águas do Estige e o rio severo das Eumênides, e, sem para tal haver recebido ordens, abordarás esta margem! Cessa de esperar que consigas, com tuas súplicas, dobrar os juízos dos deuses. Mas ouve e retém estas palavras, consolação para a tua dura desgraça: movidos por prodígios celestes que brilharão ao longe e ao largo pelas cidades, povos vizinhos aplacarão teus ossos, erguer-te-ão um túmulo e lhe levarão honras solenes; o lugar terá eternamente o nome de Palinuro”. Estas palavras baniram os cuida­dos de Palinuro e expulsaram por algum tempo a dor do seu triste coração: ele se alegra porque uma terra terá o seu nome.

Prosseguem, pois, o caminho começado e se aproximam do rio. Logo que, da onda estígia, o barqueiro os viu caminhando pela silenciosa floresta, e dirigindo os passos para a margem, por primeiro lhes dirige estas palavras, e livremente os repreende: “Quem quer que sejas, ó tu que te diriges armado para o nosso rio, dize já a que vens, e detém teus passos. Este é o lugar das Sombras, do Sono e da Noite soporífera; não é permitido transportar na barca estígia corpos vivos. Na verdade, não estou satisfeito de ter acolhido no lago o neto de Alceu que ia aos Infernos, nem Teseu e Piríto, posto que fossem descendentes dos deuses e de forças invencíveis. Aquele pôs em ca­deias, com a sua mão, o guarda do Tártaro e o arrancou, tremendo, do trono do próprio rei; os dois outros experimentaram raptar a soberana do leito de Dite”.

A sacerdotisa anfrísia lhe respondeu brevemente: “Nós não temos tais desígnios pérfidos; deixa de estar em cuidado; estas armas não trazem violência: o ingente porteiro

Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/eneida.pdf

3. Eneida de Virgílio



pode à vontade, do fundo do seu antro, ladrar eternamente e aterroriza as Sombras exangues; a casta Prosérpina pode habitar a morada do seu tio. O troiano Enéias, insigne pela piedade e pelas façanhas, desce para ver seu pai entre as sombras profundas do Erebo. Se o exemplo de tal piedade não te comove, reconhece, ao menos, este ramo”. E ela lhe mostra o ramo que estava escondido sob suas vestes. O coração de Caronte, túmido de cólera, então se acalma. Ela nada mais diz; ele, admirando o venerável dom do ramo fatal, que não via há muito tempo, volta para eles a popa sombria e se aproxima da praia. A seguir, afasta as outras almas, que estavam sentadas ao longo dos bancos, esvazia o convés e recebe no seu bojo o enorme Enéias. A frágil barca gemeu sob o peso, e, pelas fendas, recebeu muita água da lagoa estígia. Enfim expõe, são e salvo, além do rio, a sacerdotisa e o guerreiro, sobre o limo informe e entre o verde morraçal.

Lá estão os remos que o enorme Cérbero abala com o ladrar da sua tríplice goela; o monstro está deitado no antro, em frente da margem. A sacerdotisa, vendo já seu pescoço se eriçar de serpentes, lança-lhe um bolo soporífero composto de mel e de grãos preparados; o animal, com fome devoradora, abre suas três goelas e engole o que lhe lançam, estende-se no solo e com seus costados imensos enche todo o antro. Enéias apressa-se a transpor a entrada, enquanto o guar­dião está sepulto no sono, e se afasta rapidamente da margem de onda irremeável.

Repentinamente ouviram-se vozes, e um enorme vagido: almas infantis que choravam, as quais, no limiar da existência, som­brio dia arrancou sem que tivessem conhecido a doçura da vida, roubadas ao seio materno para serem mergulhadas na morte cruel. Perto delas, os inocentes, que foram condenados à morte por erro. Esses lugares não são determinados sem tribunal tirado à sorte, nem sem juizes: Minos, como juiz, agita a urna; é ele que convoca a Assembléia dos Silenciosos e que inquire da sua vida e dos seus crimes. Depois, ao lado, estão, acabrunhados de tristeza, aqueles que sem ter feito nenhum mal se suicidaram com sua própria mão, e que, odiando a luz, rejeitaram a vida. Como eles quereriam agora, sob o éter elevado, sofrer a pobreza e os duros trabalhos! O destino a isto se opõe, e o pântano odioso de onda triste os prende e o Estige divi­dido em nove braços os aprisiona.

Não longe dali se estendem por todos os lados os campos das Lágrimas: assim são chamados. Lá, aqueles que um duro amor devo­rou numa cruel consumpção, encontram, afastados, veredas que os escondem e florestas de mirtos que os abriga; seus tormentos não os abandonam nem mesmo na morte. Vê, nesses lugares, Fedra e Prócris, e a triste Erifila mostrando as feridas que um cruel filho lhe fez, e Evadne e Pasífae; Laodamia as acompanha, e Ceneu, donzel outrora, agora mulher, é revestido pelo destino com seu primitivo sexo.

Entre estas, a fenícia Dido, sangrando ainda da ferida, errava pela grande floresta; logo que o herói troiano chegou perto dela e a reconheceu, obscura, entre as sombras, como, no começo do mês se vê ou se julga ver a lua entre as nuvens, deixou as lágrimas correrem e lhe diz com doce amor: “Infortunada Dido! era pois verdade que não vivias mais e que, com o ferro na mão, seguiste o partido extre­mo! Da tua morte, ai de mim! fui eu a causa. Juro pelas constelações, pelos deuses do alto, e por tudo aquilo que há de sagrado nas profun­dezas da terra, foi, malgrado meu, ó rainha, que abandonei tuas pla­gas. Não fiz senão obedecer aos deuses, cujas ordens imperiosas me forçam agora a ir por entre estas sombras, por entre estes lugares cobertos de espantosos espinheiros e esta noite profunda. Não pode­ria crer que minha partida te causaria tão grande dor... Detém-te! Não fujas aos meus olhares! de quem foges? E a última vez que o destino me permite te falar”.

Com tais palavras, Enéias tentava abrandar aquela alma ar­dente, de torvo olhar, e procurava arrancar-lhe lágrimas. Mas ela, voltando a cabeça, tinha os olhos fixos no solo; seu rosto não se altera com essa tentativa de conversação, como se ela fosse dura pedra ou um alto contraforte do Marpesso. Finalmente retirou-se e fugiu, hostil, para a floresta umbrosa,

4. Eneida de Virgílio



onde seu primeiro esposo, Siqueu, corresponde a seus cuidados e partilha seu amor. Enéias, todavia, abalado por essa iníqua desgraça, segue-a ao longe, chorando, e, enquanto ela se afasta, ele dela se compadece.

Dali continua o caminho que lhe foi determinado. Já atingiam os campos mais recuados que, separados, freqüentam os varões ilus­tres na guerra. Lá lhe saiu ao encontro Tideu, aqui Partenopeu, célebre pelas suas armas, e a imagem do pálido Adrasto. Lá estão os dardânidas tombados na guerra e tão chorados pelo mundo de cima. Em os vendo desfilar a todos, em longa fila, Enéias geme; reconhece Glauco, Medote, Tersíloco, os três filhos de Antenor, Polibetes, con­sagrado a Ceres, e Ideu, tendo, ainda, as suas rédeas, ainda, suas armas. Essas almas o cercam, à direita e à esquerda, em grande número; não lhes é bastante tê-lo visto uma vez; apraz-lhes até demo­rar-se, seguir seus passos, informar-se da causa da sua visita. Mas os chefes dos dânaos e as falanges de Agamenão, apenas perceberam o herói e as suas armas brilhantes, tremeram presa de enorme pavor: uns voltam as costas, como outrora, quando fugiam para seus navios; outros emitem débil grito; o clamor começado expira na boca em vão escancarada.

Lá também ele viu o filho de Príamo, Deífobo, com o corpo todo retalhado, o rosto cruelmente golpeado e ambas as mãos e ore­lhas arrancadas, as têmporas feridas e o nariz mutilado com horrível ferida. Enéias a custo o reconhece, e ele, trêmulo, esconde suas cruéis feridas; mas aquele o chama com palavras familiares: “Deífobo, po­deroso pelas armas, nascido do generoso sangue de Teucro, quem pois ousou infligir-te tão cruel suplício? Quem assim te pôde tratar? Ouvi dizer, na última noite de Tróia, que, cansado de uma vasta carnificina, caíras sobre um montão informe de cadáveres. Então eu mesmo levantei um túmulo vazio sobre a margem do Reteu, e três vezes, em altos brados, invoquei teus Manes. Teu nome e tuas armas consagram aquele lugar; mas a ti, meu amigo, não pude encontrar nem te depositar, ao partir, na terra da pátria”. O filho de Príamo lhe responde: “Nada esqueceste, meu amigo; cumpriste todas as obri­gações para com Deífobo e para com a sombra do seu cadáver. Mas meu destino e o crime da lacônia me mergulharam neste abismo de males: eis a lembrança que ela me deixou. Em que enganosas alegrias passamos a noite suprema, tu o sabes, e é muito necessário que nos lembremos! Quando o fatal cavalo galgou a alta Pérgamo e para ela conduziu a infantaria armada que seus flancos guardavam, ela, simu­lando um coro, conduzia à volta do cavalo as mulheres frígias que celebravam as orgias; no meio delas, segurava um grande facho e cha­mava os dânaos do cume da cidadela. Estava, então, acabrunhado de pesares e oprimido pelo sono; estendido sobre meu infortunado leito, dormi, invadido por doce e profundo repouso, muito semelhante à tranqüila morte. Durante esse tempo minha excelente esposa retira todas as armas do palácio, depois de ter levado da cabeceira do meu leito minha fiel espada. Chama Menelau para dentro do palácio e lhe abre as portas, esperando sem dúvida que essa bela ação seduziria o homem que a amava, e que assim poderia apagar a lembrança do antigo adultério. Que direi? Eles precipitam-se para o meu aposento, e um companheiro a eles se junta, o instigador de crimes, o neto de Éolo. Ó deuses, renovai esses horrores contra os gregos, se é com piedosa boca que reclamo vingança! Mas tu, dize-me, por tua vez, que acontecimentos te trouxeram vivo a este lugar? Porventura vens trazido pelos cursos errantes do mar ou por conselho dos deuses? Ou que outra desgraça te persegue para que afrontes estas tristes moradas sem sol, estes lugares sombrios?”

Durante essa troca de palavras, a Aurora com a sua quadriga cor-de-rosa atravessara, no seu curso etéreo, a metade do céu; e cer­tamente passariam todo o tempo concedido a prolongar tal conversa, se a Sibila, sua companheira, não advertisse o herói e não lhe dissesse brevemente: “A noite está caindo, Enéias, e nós passamos as horas a chorar. Este é o lugar onde o caminho se bifurca para ambas as partes; o caminho à direita é o que vai dar nas muralhas do grande Dite: é o caminho dos Elísios, é o nosso; mas o caminho à esquerda

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conduz ao Tártaro ímpio, onde os maus são punidos”. Deífobo, em resposta, diz: "Não te irrites, grande sacerdotisa; afastar-me-ei; com­pletarei o número das sombras e reentrarei nas trevas. Vai, nossa glória, vai, segue melhores destinos”. Nada mais disse e com essas palavras se afastou.

Subitamente Enéias olha para trás e vê à esquerda, ao pé dum rochedo, largas muralhas circundadas por tríplice muro. Um rio rápido, o Flegetonte do Tártaro, as rodeia com chamas torrenciais e rola retumbantes rochedos. Em frente, uma enorme porta e colunas de sólido diamante, tais que nenhuma força humana, nem os próprios celícolas as podem derrubar. Uma torre de ferro se ergue nos ares, e Tisífone aí vigia, com a veste ensangüentada apanhada, guardando o vestíbulo noite e dia, sem dormir. Dali se ouvem gemidos, terríveis chicotadas, depois o ruído estridente do ferro e o arrastar de cadeias. Enéias parou e, atônito, escutou o barulho: “Que espécie de crimes aqui é punida? ó virgem, dize-me; quais são os castigos que aí se infligem? Que grande lamento é este que sobe aos meus ouvidos?” Então a sacerdotisa lhe responde: “Chefe ilustre dos teucros, não é permitido a nenhum homem transpor o limiar do crime; mas Hécate, em me confiando a guarda dos bosques sagrados do Averno, me instruiu ela mesma a respeito das penas estabelecidas pelos deuses e me conduziu por toda parte. O gnóssio Radamanto exerce nesses lugares o seu muito duro poder; tortura os fraudulentos e os obriga a confessar os crimes de que se gabam em vão de haver escondido dos mortais e cuja expiação diferiam até a hora tardia da morte. Imediatamente, armada de vergalhos, a vingadora Tisífone, saltando sobre os culpados, os flagela, e, com a mão direita, brandindo contra eles ameaçadoras serpentes, chama a feroz caterva de suas irmãs. Somente então, abrem-se as portas sagradas, rangendo na couceira com horrível ruído. Vês qual é a guarda que está assentada no vestíbulo? Lá dentro, mais feroz ainda, tem assento uma hidra monstruosa, de cinqüenta goelas negras e hiantes. Logo depois o próprio Tártaro se abre e se estende pelo império das sombras, duas vezes tão profundo quanto o espaço que o olhar alcança do céu até o etéreo Olimpo. Lá, a antiga raça da Terra, os Titãs, derrubados pelo raio, revolvem-se nas profundezas do abismo. Lá, também, vi os dois filhos de Aloeu, os Aloídas, monstruosos gigantes que tentaram forçar o grande céu com suas mãos e expulsar Júpiter do reino do céu. Vi, ainda, Salmoneu sofrer cruéis castigos; imitando os raios de Júpiter e o estrondo do Olimpo, tirado por quatro cavalos e agitando a tocha, atravessava, como triunfador , por entre os povos dos gregos e da sua cidade no meio da Élida e reclamava para si as honras dos deuses; louco! Cria que conduzindo por uma ponte de bronze os cavalos de cascos retumbantes imitava as procelas e o raio inimitável! Mas o pai onipotente lançou do seio das nuvens espessas, não brandões, não fachos de fumarentos tições, mas um raio, e o precipitou num monstruoso turbilhão. E era também para ver Tício, rebento da Terra, mãe de todas as coisas, cujo corpo cobre nove jeiras inteiras: um monstruoso abutre de bico recurvo roendo seu fígado imortal e suas entranhas fecundas em suplícios, aí escava a fim de encontrar alimento, e habita sob seu profundo peito e não dá tréguas às fibras sempre renascentes. Para que lembrarei os lápitas e Ixião e Piríto? Uns rolam ingente rochedo ou pendem, esquartejados, dos raios de uma roda; o infortunado Teseu está assentado e assentado permanecerá eternamente; Flégias, o mais desgraçado, adverte a todos e os toma por testemunha com a sua voz imensa, na sombra: ‘Aprendei, pelo meu exemplo, a respeitar a justiça e a não desprezar os deuses!’ Sob sua cabeça, negra rocha ameaça rolar e parece prestes a cair. Sobre altos leitos de festa luzem as cabeceiras de ouro, e alimentos estão dispostos sob seus olhos com luxo real; mas a mais idosa das Fúrias está deitada a seu lado e lhe impede pôr a mão na mesa, ergue-se brandindo sua tocha e faz ouvir o trovão da sua voz. Lá se encontram aqueles que durante a vida odiaram os irmãos, espancaram os pais ou enganaram a boa fé de um cliente; aqueles (e o número é considerável) que juntaram as riquezas para eles somente acumuladas e não deram uma parte ao próximo; aqueles que foram mortos por causa de adultério e aqueles que, seguindo ímpias

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armas, não temeram trair o juramento feito aos seus senhores: todos, lá aprisionados, esperam o castigo. Não procures saber qual é este castigo nem que forma de crime ou que destino mergulhou os homens nestes tormentos. Aquele vendeu sua pátria por ouro e lhe impôs um senhor todo-poderoso; aquele outro, mediante certa soma, estabeleceu leis e aboliu-as; aqueloutro penetrou na alcova da filha e consumou um himeneu interdito. Todos ousaram crimes monstruosos e realizaram sua audácia. Não, mesmo que tivesse cem línguas e cem bocas e uma voz de ferro, não poderia enumerar todas as formas de crime, passar em revista todos os nomes dos suplícios”.

Depois que pronunciou estas palavras, a velha sacerdotisa de Febo continuou: “Mas vamos, prossegue tua rota e conclui o que empreendeste com o meu favor; apressemo-nos; já vejo os muros saídos das forjas dos Ciclopes, e as portas com a abóbada fronteira, onde nos cumpre depositar estes presentes

Tinha dito; e, caminhando a par através das trevas da rota, atravessam rapidamente o espaço intermediário e se aproximam das portas. Enéias ocupa a entrada e borrifa com água fresca o seu corpo e fixa o ramo no limiar que lhe está fronteiro.

Terminados estes deveres e oferecido o presente à deusa, chegam às ridentes paragens, aos frescos vergéis de árvores deliciosas e às habitações dos bem-aventurados. Éter mais rico reveste esses lugares de luz de púrpura. As sombras aí têm o seu sol e suas cons­telações. Umas, sobre a relva, exercem seus membros na palestra, medem suas forças no jogo e lutam sobre a areia fulva; outras batem a terra em coros cadenciados e cantam versos. O sacerdote da Trá­cia, com longas vestes, faz soar harmoniosamente as sete notas do canto e faz a lira vibrar, ora sob seus dedos, ora sob o plectro de marfim. Lá se encontra a antiga descendência de Teucro, magnífica posteridade, heróis magnânimos nascidos em anos melhores: Ilo, Assáraco e Dárdano, fundador de Tróia. Enéias admira, de longe, as armas e os carros sem consistência dos guerreiros; as lanças estão pregadas na terra e os cavalos pascem aqui e acolá. Aqueles que gos­taram de carros enquanto vivos, e de armas, aqueles que gostaram de apascentar os nédios cavalos, conservam o mesmo gosto descidos sob a terra. Eis que vê outros à direita e à esquerda banqueteando-se na erva e cantando em coro alegre peã, no meio de um bosque odorí­fero de loureiros, donde o rio Erídano, que rola suas águas abundan­tes através da floresta, sai para ascender à superfície da terra. Lá se achava um esquadrão de guerreiros, cobertos de feridas que sofreram combatendo pela pátria, e os sacerdotes que, durante a vida, obser­varam os ritos; os poetas piedosos, cujos versos foram dignos de Febo; e aqueles que embelezaram a vida por meio de seus inventos e artes; e aqueles que por seus serviços mereceram viver na memória dos outros. Todos têm as têmporas cingidas com fitas cor de neve. A Sibila dirige-se a essas Sombras espalhadas ao seu redor, e sobretudo a Museu, pois ela o via cercado de numerosa multidão que ele ultrapassava com seus altos ombros: “Dizei, ó almas felizes, e tu, ó ótimo vate, que região, que lugar ocupa Anquises? Viemos por causa dele e passamos os grandes rios do Erebo”. Então o herói lhe respon­de assim em poucas palavras: “Ninguém aqui tem residência fixa; habitamos os bosques sombrios, as ribanceiras dos rios e as frescas praias regadas pelos regatos. Mas, se tal é a vontade de vossos cora­ções, subi este cabeço e logo vos porei em fácil atalho”. Tinha dito e, avançando na frente, mostra-lhes os campos brilhantes; descem logo do cume da eminência.

Entretanto o venerável Anquises, no fundo de um vale verde­jante, contemplava com terno interesse as almas que lá estavam en­cerradas e que deveriam vir à luz de cima; e justamente ele contava o número dos seus caros descendentes, seus destinos, sua fortuna, seus caracteres, suas façanhas. E logo que viu Enéias dirigindo-se do lado oposto, através dos relvados, alegre, levantou para o céu ambas as palmas das mãos; lágrimas banharam-lhe o rosto e sua boca deixou cair estas palavras: “Enfim vieste, e tua piedade, há tanto esperada pelo teu pai, triunfou da dura viagem! É-me dado contemplar teu rosto, ó filho, ouvir e fazer

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ouvir estas palavras familiares! Na ver­dade, tinha tal esperança no coração e contava o tempo gozando o futuro; minha solicitude não foi enganada. Que de terras, que de imensos mares atravessaste antes de chegar até mim! por quão gran­des perigos foste perseguido, ó filho! Quanto temi que os remos da Líbia te fossem nocivos!” Enéías, porém, retruca-lhe: “É a tua ima­gem, meu pai, é a tua triste imagem, que, oferecendo-se a mim fre­qüentemente, me força a transpor o limiar destes lugares. Minha frota está ancorada no mar Tirreno. Permite, ó pai, permite que aperte tua mão direita e não te afastes de meu abraço”. Assim falan­do, grossas lágrimas corriam-lhe pelas faces; três vezes tentou lançar os braços em volta do pescoço do pai, três vezes a imagem escapou-se das suas mãos, semelhante aos ventos ligeiros e semelhante a um sonho alado.

Entretanto Enéias vê num vale um bosque separado e arvore­dos cujos ramos farfalhavam, e o rio Letes que banha aquela aprazível região. Em volta desse rio agitavam-se nações e povos incontáveis; bem como quando as abelhas, num sereno dia de verão, pousam nas flores e se espalham em volta dos cândidos lírios, todo o campo murmura com o zumbido dos insetos. Enéias pasma a essa súbita vista, e se informa da causa daquele mistério: que rio é aquele que se estende ao longe? quem são os homens que cobrem, com sua longa fila, as praias? Então o pai Anquises lhe diz: “As almas, às quais são devidos pelo destino outros corpos, bebem na onda do rio Letes as águas quietas e os longos olvidos. Há muito tempo, na verdade, desejo te referir e pôr sob teus olhos e te enumerar toda esta descen­dência dos meus, para que rejubiles comigo de antemão por haver encontrado a Itália”. “Ó meu pai, é pois crível que as almas subam daqui ao ar, em direção do céu, e voltem, novamente, ao peso dos corpos? Que desejo insensato é este de luz que se apodera desses infelizes?” “Na verdade, eu te direi, meu filho, não te deixarei duvidoso”, retorna Anquises, e lhe desvenda, ordenadamente, cada segredo. “No princípio um sopro vivifica interiormente o céu, a terra, as líquidas planícies, o globo luminoso da lua e o astro de Titá, e o espírito, espalhado pelos membros do mundo, move a massa inteira e se mistura com este grande corpo. Daí provém a raça dos homens, a dos animais e a vida das aves, e os monstros que o mar encerra sob sua superfície marmórea. Há nessas sementes de vida vigor ígneo e origem celeste, enquanto corpos nocivos não os contrariem e par­tes corporais e membros perecíveis não lhes tolham as funções. Daí nascem os temores e os desejos, as dores e as alegrias, e não distin­guem mais as brisas do céu, fechados que estão nas suas trevas e na sua cega prisão. Além disso, logo que o dia supremo da vida deixou o corpo, os infelizes não estão de todo desembaraçados do mal e de todas as misérias corporais, e o mal que longo tempo se acumulou no fundo deles mesmos, necessariamente cresce, de maneira extraordi­nária. Por isso são castigadas com penas e sofrem os castigos dos antigos males: umas, suspensas ao ar, são abertas ao sopro dos ventos ligeiros; outras lavam no fundo de um golfo o crime com o qual foram manchadas, ou são depuradas pelo fogo. Cada um de nós sofre os seus Manes; a seguir somos enviados para o amplo Elísio, cujas ridentes campinas em número pequeno nós ocupamos. Finalmente, depois que um longo dia, volvido o círculo dos tempos, apagou a mancha profunda e purificou a origem celeste, faísca do sopro primi­tivo; quando todas essas almas viram rodar a roda durante mil anos, o deus os chama em longas filas para as bordas do rio Letes, a fim de que esqueçam o passado e tornem a ver as abóbadas do alto, e comecem a querer voltar para corpos.”

Anquises acabara de falar; conduz seu filho, assim como a Sibila, para o meio dos grupos e da multidão burburinhante, e se colocam numa eminência, donde o herói possa ver a todas e passar em revista a longa fila sob seus olhos e conhecer seus rostos ao passa­rem. “Agora te direi que glória aguarda no porvir a raça de Dárdano, que netos de raça itálica te são reservados, almas ilustres e que devem revestir nosso nome; revelarei teus destinos. Aquele jovem, vês, que se apóia numa lança sem ferro, a sorte lhe concedeu o lugar mais vizinho da luz; sairá por primeiro para os sopros do éter, de sangue italiano misturado ao

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nosso: é Sílvio, nome albano, teu último filho; tua esposa, Lavínia, to dará tardiamente, no fim da tua longa idade; ela criará nos bosques esse rei, pai de reis, do qual nossa família descenderá e dominará em Alba Longa.

Aquele que está bem perto dele é Procas, honra da nação troiana; e Cápis e Númitor e aquele que fará reviver teu nome, Silvio Enéia, igualmente admirável pela piedade e pelas armas, se algum dia obtenha reinar sobre Alba. Que jovens! que força mos­tram! olha como suas frontes estão cingidas com o carvalho cívico. Esses aqui te fundarão Nomento e Gábios e a cidade de Fidena; aqueles lá fundarão sobre montanhas a cidadela de Colácia, a cidade dos pomécios e a fortaleza de Ínuo, Bola e Cora: tais serão os nomes dessas terras, hoje sem nome.

E depois, a seu avô se unirá Rômulo, filho de Marte, o qual sua mãe Ília dará à luz, do sangue de Assáraco. Vês como duas plu­mas se elevam sobre a sua cabeça, e como o próprio pai dos deuses superiores o consagra já com a sua própria insígnia? É sob seus auspícios, meu filho, que aquela ilustre Roma igualará seu império à terra, sua alma ao Olimpo, e com uma só muralha cercará sete coli­nas. Cidade fecunda em heróis! Tal como a Mãe Berecíntia, levada sobre o seu carro e coroada de torres, atravessa as cidades frígias, feliz por ter gerado filhos dos deuses, e abraçando cem netos, todos habitantes do céu, todos ocupando as alturas superiores.

Volta, agora, teus olhares para aqui: olha esta nação; são os teus romanos. Este aqui é César e toda a descendência de Iulo, desti­nada a vir sob a grande abóbada do céu. Este é César Augusto, filho dum deus, que tantas vezes ouviste ser-te prometido; de novo há de trazer ao Lácio séculos de ouro, por entre as campinas outrora gover­nadas por Saturno; estenderá seu império mais longe que o país dos garamantes e dos indianos, sobre as terras que se estendem além das constelações, além das rotas do sol e do ano, e onde Atlas que carrega o céu gira sobre suas espáduas o eixo do mundo semeado de estrelas luzentes. Desde agora, ao ruído de sua chegada, os remos cáspios tremem só com os oráculos dos deuses, e a terra meótica e as bocas do Nilo de sete braços. Nem sequer Alcides percorreu tantas terras, ainda que tenha ferido a corça de pés de bronze, pacificado os bos­ques de Erimanto, e tenha feito tremer Lema com seu arco; nem Líber, que conduz, vencedor, sua carruagem com rédeas de pâmpa­nos, conduzindo seus tigres do alto cume do Nisa. E nós hesitamos ainda a estender nossa glória por meio de altos feitos? e o temor nos impede que nos instalemos na terra da Ausônia?

Quem é aquele homem, ao longe, assinalado por ramos de oliveira e que traz objetos sagrados? Reconheço a cabeleira e a barba encanecida do rei romano que fortalecerá a cidade primitiva com leis, enviado da pequena Cures e duma pobre terra para governar um grande império.

Aquele que lhe sucederá, Tulo, interromperá o repouso da sua pátria e chamará às armas os soldados entorpecidos na paz e as tropas já desabituadas aos triunfos. Ao seu lado segue seu sucessor, cheio de soberba, Anco, excessivamente sensível ao favor popular. Queres também ver os reis Tarqúmios e a alma soberba do vingador Bruto e os fasces reconquistados? Ele será o primeiro a receber o poder de cônsul e as terríveis machadinhas, mas, seus filhos fomen­tando guerra revolucionária, ele, o pai, os votará ao suplício pela bela causa da liberdade. Infortunado! Qualquer que seja o julgamento que a posteridade fizer desses atos, em ti triunfarão o amor da pátria e o imenso desejo de glória.

Olha, ainda, ao longe, os Décios, os Drusos, Torquato arma­do de terrível machadinha, e Camilo que torna a trazer os estandar­tes. Aquelas almas, porém, que vês resplandecer com armas iguais, agora em pleno acordo, enquanto a noite pesar sobre elas, mas, ai! que formidável guerra rebentará entre elas quando tocarem o limiar da vida! quão grandes exércitos! quão grande mortandade farão entre si! O sogro descendo dos contrafortes alpinos e da cidadela de Moneco, o genro apoiado por forças adversas do país da Aurora. Ó rapazes,

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não, não acostumeis vossos espíritos a tão grandes guer­ras; não volteis as forças sólidas da pátria contra as suas próprias entranhas! E tu, o primeiro, tu que tiras tua origem do Olimpo, poupa-a, lança fora da mão as armas, ó meu sangue!...

Aquele, vencedor de Corinto, conduzirá seu carro sobre as alturas triunfais do Capitólio, ilustre para sempre por causa do mas­sacre dos aqueus. Aqueloutro destruirá Argos e a Micenas de Agame­não e o próprio Eácida descendente de Aquiles poderoso pelas armas, vingando seus antepassados de Tróia e o templo ultrajado de Minerva. Quem poderia, ó grande Catão, ou tu, Cosso, vos não men­cionar? Quem poderia esqueçer a família dos Gracos, ou aqueles dois raios de guerra que foram os dois Cipióes, flagelo da Líbia, ou Fabrício, glorioso pelas suas pequenas posses, ou tu, Serrano, semeando teu campo? Fatigado, para onde me levas, Fábio? Tu, famoso Má­ximo, és o único que, sozinho, em temporizando, nos restabeleceste a república.

Outros saberão, com mais habilidade, abrir e animar o bron­ze, creio de boa mente, e tirar do mármore figuras vivas, melhor defenderão as causas e melhor descreverão com o compasso o movi­mento dos céus e marcarão o curso das constelações: tu, romano, lembra-te de governar os povos sob teu império. Estas serão tuas artes, impor condições de paz, poupar os vencidos e dominar os soberbos.”

Assim falou o pai Anquises; e ajuntou estas palavras para seus ouvintes maravilhados: “Olha como Marcelo avança, assinalado pelos despojos opimos, e como esse vencedor ultrapassa a todos os heróis! É ele que, na perturbação de um grande tumulto, manterá o poder romano, e, cavaleiro, aterrará os púnicos e o gaulês rebelde e suspenderá ao pai Quirino a terceira armadura arrebatada ao inimigo”.

E então Enéias o interrompe, pois ele via aproximar-se com Marcelo um jovem notável pela beleza e pelas armas replandecentes, mas com a fronte pouco alegre e com os olhos tristes e baixos: “Quem é, meu pai, aquele que acompanha assim o herói na sua marcha? É seu filho ou algum dos netos que descendem da sua gran­de estirpe? Que murmúrio lisonjeiro fazem os companheiros que o cercam! Que majestade a sua! Mas a noite sombria voa ao redor da sua cabeça com triste sombra”. Então o pai Anquises, derramando lágrimas, começa: “Ó meu filho, não procures conhecer o enorme luto dos teus. Aquele lá, os destinos o mostrarão somente à terra e não permitirão que ele exista por muito tempo. A raça romana vos pareceu muito poderosa, deuses do alto, se esses dons fossem durá­veis. Quão grandes gemidos de homens levantará aquele campo fa­moso, vizinho da grande cidade de Marte! E tu, deus do Tibre, que funerais verás quando correres diante da sua tumba recente! Nenhum filho da raça de Ilião jamais levará tão alto a esperança de seus antepassados latinos; jamais a terra de Rômulo se orgulhará tanto de um dos seus rebentos. Ai de mim! piedade! Ai de mim! antiga honra, direito que a guerra jamais venceu! Ninguém impunemente se teria oposto a ele quando, a pé, marchava contra o inimigo, ou quando picava com as esporas os flancos do cavalo espumante! Ai de mim! jovem digno de compaixão, pudesses tu romper os rigorosos destinos! Tu serás Marcelo. Lançai-lhe lírios a mancheias, que eu espalharei flores vermelhas, que eu encha, ao menos, com essas ofe­rendas a alma do meu neto, e me desobrigue de uma vã homenagem!”

E assim que eles erram aqui e acolá por toda a região, através dessas largas planícies nebulosas, e dirigem seus olhares para toda parte.

Depois que Anquises conduziu seu filho a todos os lugares e lhe acendeu o ânimo com o amor da fama que há de vir, fala-lhe então das guerras que terá de sustentar, faz-lhe conhecer os povos laurentes e a cidade de Latino e como poderá evitar ou suportar cada uma das provas.

Há duas portas do Sono: uma, diz-se, é de chifre, pela qual as Sombras verdadeiras encontram saída fácil; a outra, brilhante, feita de marfim refulgente de brancura, mas pela qual os Manes enviam para o céu os sonhos falsos. Anquises, sempre falando, acompanha seu filho assim como a Sibila e os faz sair pela porta de marfim. O herói corta o caminho para as suas naves e reúne-se aos companheiros. Depois, bordejando a costa, dirige-se para Caiete. A âncora é lançada do alto da proa; as popas estão na praia.

Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/eneida.pdf

terça-feira, 1 de maio de 2012

Dia dos trabalhadores



O LATUSCULTUS DESEJA UM FELIZ DIA DO TRABALHO PARA TODOS OS TRABALHADORES, EM ESPECIAL PARA BRASILEIROS.