quarta-feira, 2 de maio de 2012

8. Eneida de Virgílio



nosso: é Sílvio, nome albano, teu último filho; tua esposa, Lavínia, to dará tardiamente, no fim da tua longa idade; ela criará nos bosques esse rei, pai de reis, do qual nossa família descenderá e dominará em Alba Longa.

Aquele que está bem perto dele é Procas, honra da nação troiana; e Cápis e Númitor e aquele que fará reviver teu nome, Silvio Enéia, igualmente admirável pela piedade e pelas armas, se algum dia obtenha reinar sobre Alba. Que jovens! que força mos­tram! olha como suas frontes estão cingidas com o carvalho cívico. Esses aqui te fundarão Nomento e Gábios e a cidade de Fidena; aqueles lá fundarão sobre montanhas a cidadela de Colácia, a cidade dos pomécios e a fortaleza de Ínuo, Bola e Cora: tais serão os nomes dessas terras, hoje sem nome.

E depois, a seu avô se unirá Rômulo, filho de Marte, o qual sua mãe Ília dará à luz, do sangue de Assáraco. Vês como duas plu­mas se elevam sobre a sua cabeça, e como o próprio pai dos deuses superiores o consagra já com a sua própria insígnia? É sob seus auspícios, meu filho, que aquela ilustre Roma igualará seu império à terra, sua alma ao Olimpo, e com uma só muralha cercará sete coli­nas. Cidade fecunda em heróis! Tal como a Mãe Berecíntia, levada sobre o seu carro e coroada de torres, atravessa as cidades frígias, feliz por ter gerado filhos dos deuses, e abraçando cem netos, todos habitantes do céu, todos ocupando as alturas superiores.

Volta, agora, teus olhares para aqui: olha esta nação; são os teus romanos. Este aqui é César e toda a descendência de Iulo, desti­nada a vir sob a grande abóbada do céu. Este é César Augusto, filho dum deus, que tantas vezes ouviste ser-te prometido; de novo há de trazer ao Lácio séculos de ouro, por entre as campinas outrora gover­nadas por Saturno; estenderá seu império mais longe que o país dos garamantes e dos indianos, sobre as terras que se estendem além das constelações, além das rotas do sol e do ano, e onde Atlas que carrega o céu gira sobre suas espáduas o eixo do mundo semeado de estrelas luzentes. Desde agora, ao ruído de sua chegada, os remos cáspios tremem só com os oráculos dos deuses, e a terra meótica e as bocas do Nilo de sete braços. Nem sequer Alcides percorreu tantas terras, ainda que tenha ferido a corça de pés de bronze, pacificado os bos­ques de Erimanto, e tenha feito tremer Lema com seu arco; nem Líber, que conduz, vencedor, sua carruagem com rédeas de pâmpa­nos, conduzindo seus tigres do alto cume do Nisa. E nós hesitamos ainda a estender nossa glória por meio de altos feitos? e o temor nos impede que nos instalemos na terra da Ausônia?

Quem é aquele homem, ao longe, assinalado por ramos de oliveira e que traz objetos sagrados? Reconheço a cabeleira e a barba encanecida do rei romano que fortalecerá a cidade primitiva com leis, enviado da pequena Cures e duma pobre terra para governar um grande império.

Aquele que lhe sucederá, Tulo, interromperá o repouso da sua pátria e chamará às armas os soldados entorpecidos na paz e as tropas já desabituadas aos triunfos. Ao seu lado segue seu sucessor, cheio de soberba, Anco, excessivamente sensível ao favor popular. Queres também ver os reis Tarqúmios e a alma soberba do vingador Bruto e os fasces reconquistados? Ele será o primeiro a receber o poder de cônsul e as terríveis machadinhas, mas, seus filhos fomen­tando guerra revolucionária, ele, o pai, os votará ao suplício pela bela causa da liberdade. Infortunado! Qualquer que seja o julgamento que a posteridade fizer desses atos, em ti triunfarão o amor da pátria e o imenso desejo de glória.

Olha, ainda, ao longe, os Décios, os Drusos, Torquato arma­do de terrível machadinha, e Camilo que torna a trazer os estandar­tes. Aquelas almas, porém, que vês resplandecer com armas iguais, agora em pleno acordo, enquanto a noite pesar sobre elas, mas, ai! que formidável guerra rebentará entre elas quando tocarem o limiar da vida! quão grandes exércitos! quão grande mortandade farão entre si! O sogro descendo dos contrafortes alpinos e da cidadela de Moneco, o genro apoiado por forças adversas do país da Aurora. Ó rapazes,