Mas tudo começou no começo.
Prof. José Cícero Gomes
Nós, brasileiros, desconhecemos o sentido real de justiça; desde a chegada aqui dos lusonautas até os nossos dias há uma certeza que nesta terra chamada Brasil, só há punição para delitos cometidos por pobres, pretos ou quase pretos. Porém até estes se forem amigo do amigo do rei, serão agraciados pela impunidade. “Justitiae soror fides”, mas aqui temos a impressão que se elas são irmãs(a justiça e a fé) andam brigadas, já a muito tempo, e que só temos por nós, Deus. Já que acreditamos que sua justiça é reta (Justitiae Domini rectae). Nosso povo já está cansado de ver tanta impunidade e injustiça por todos os cantos deste país que quando escutamos ou lemos notícia como esta: a Polícia Federal deflagrou ontem sexta-feira (18) uma operação em Rondônia para combater esquema de desvio de verbas no Sistema Único de Saúde (SUS) que chega a R$ 15 milhões. A Operação Termópilas resultou na prisão de 15 pessoas, entre elas, o presidente da Assembleia Legislativa, Valter Araújo (PTB). Ele foi preso em flagrante e é apontado como líder da quadrilha. Chegamos a dizer “é mais um caso como tantos outros aqui em nossa Rondônia, e em todo o Brasil. Não vai dar em nada”. Já não temos fé na justiça dos homens e apelamos apenas para a de Deus. O Noviço, escrito por Martins Pena em 1845 e representada pela primeira vez no Teatro São Pedro (Rio de Janeiro), em 10 de agosto do mesmo ano, continua plenamente atual. Se alguém ler a cena I, ficará assustado ou pelo menos surpreso porque é como se tivesse lendo a confissão de um dos inúmeros corruptos brasileiros que vivem lapidando o erário público em muitos rincões do Brasil, e principalmente lá no Planalto Central. A cena citada é a seguinte:
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CENA I: “AMBRÓSIO, só de calça preta e chambre — No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, eu era pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo tiver que responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa”.
O principal motivo de insatisfação do povo brasileiro com seus representantes e com o seu Estado é a impunidade, a injustiça é um foto não é produto ou delírio das mentes de homens como Caetano Veloso, Ziraldo Alves Pinto, José Eugênio Soares, Rui Barbosa, Leonel de Moura Brizola, Enéas Ferreira Carneiro, José Afonso Alves... Se hoje a bola da vez para os insatisfeitos são as redes sociais, que ganharam força como arma popular em todo o mundo para a divulgação e mobilização da sociedade, os temas que tanto incomoda a sociedade brasileira, corrupção, injustiça social e impunidade também já foi ventilados nas principais cidades do Brasil por meio de letras de músicas da MPB, de peças teatrais e da literatura. Compositores, poetas e escritores brasileiros de portes e gêneros diversos usaram os seus talentos para criticar o mau uso do dinheiro público e a impunidade.
No Brasil atual é consenso que só a punição para crimes cometidos por ladrão de galinha e nunca os criminosos de colarinho branco são punidos, ultimamente tem se visto operações como esta Termópilas, o que não se viu até agora é justiça. Se vão presos, mas logo estão soltos, e o dinheiro lapidado dos cofres públicos nunca volta. Seja o corrupto um lobo, uma raposa ou um gavião exercendo um mandato no executivo, legislativo ou um mero servidor(a) como a Jorgina Maria de Freitas Fernandes.