regurgita envelhecidas palavras
que instauraram pelo tempo
o sotaque agressivo das tardes
cifradas
por janelas
e cascos areentos.
Meu canto,
que até agora combate
em silêncio
por um pouco de claridão,
reconhece as tarefas estorricadas
que aprenderam soletrar a palavra amor
na cartilha exaurida
dos cabrestos.
Tendo o chão como primeiro ofício
de madrugada,
alevanta suas sílabas vertiginosas,
que são barcos coagulados dentre sombras
por debaixo à faca,
naufragando sob a salmoura
dos alumrios semeados na medula das lamparinas.
Sim. Meu canto de esconjuro
tem o desfecho das rosas
cicatrizando
suas pedras e saudades.
) Pastoreando
os estradeiros nas noites escuras,
com suas pestanas esticadas
que nem pétalas,
redemoinhos fossilizados
no choro das cigarras (.
Meu canto
tem as lembranças amadorecidas
no espinhaço das secas
que desenham
suas ruindades
de por sobre
os latifúndios da fome.
Meu canto vive em chamas
que nem uma broca
acesa nas ventanias, lembrando à terra
o duro sabor de velhas queimadas.
Meu canto de esconjuro
tem enfezamento das águas que se espicham
assanhando os terreiros,
desabotoando sobre couro do chão emagrecido,
uma vazão de ricos antepassados
que foram plantados nos quintais,
e remendados
por doídas inflamações.
Meu canto de esconjuro,
com orvalhos cristalizados
no fundo dos olhos,
reverdece em forma de latejo
para fulorar suas faísca de estrelas
e acalantos
no coração das piabas.
Meu canto entrestecido
gasta seus últimos lamentos
com a palavra esperança,
que por aqui tem outros antigos nomes.
E de seu favo-úbere,
sangra um enxame
de vaga-lumes absortos
plantadores
de girassóis e passarinhos.
Cleilson Pereira Ribeiro
