sexta-feira, 25 de julho de 2008

nostri lingua portuguesa
























A última flor do lácio, nossa língua Portuguesa é uma língua que resulta dos varios falares nativos ibéricos e do contato entre as diversas línguas invasoras que passaram a serem faladas na Península Ibérica. Como o latim também era falado ali e serviu de base para a formação do Português, nossa língua é neolatina, quer dizer pertence ao grupo de línguas que se originaram do latim. Daí o porque de Olavo Bilac chamala de a última flor do Lácio.No decorrer da longa história de sua formação, o Português tornou-se uma língua própria e independente.
Você sabe, por exemplo, por que aparece "feira" nos nomes dos dias da semana usados por nós? E mesmo falando a mesma língua, temos diferença com relação a Portugal, como quando falamos sobre futebol? Você saberia dizer o que significa "auto-golo" ou "balneário" em Português de Portugal?
Nomes dos dias da semana em Português
Em Português, os nomes dos dias da semana são diferentes dos nomes nas outras línguas de origem latina. Em algumas línguas, os nomes estão relacionados ao satélite natural da Terra e aos planetas. Em Espanhol, por exemplo, lunes (segunda-feira) é formado de Lua; martes (terça-feira), de Marte; miércoles (quarta-feira), de Mercúrio, e assim por diante. Em Francês, é lundi, mardi, mercredi etc. E em Português, por que aparece “feira” nos nomes dos dias da semana? Vamos ver?Por volta do século VI (não se esqueça de que estamos no século XXI), foram denominados, em latim, os dias da semana santa como dias feriados ou dias de férias. Como se sabe, nos dias de férias não se trabalha. Então, depois do domingo, que é o “dies dominicus”, ou “dia do Senhor”, e também o primeiro dia da semana, vem o “feria secunda”, que significa segundo dia de feriado ou de férias; depois, “feria tertia”, e assim por diante. Com o tempo, houve mudança na grafia das palavras, e o -i- passou para antes do “r”. Mas o interessante é que “feira” também significava “repouso”, “férias”, que, no uso popular, passou a significar “feira”, porque os dias de festa religiosa eram aproveitados para comércio no local daquelas manifestações. Portanto, num dia de féria era dia para ir à feira. A semana em Português é assim denominada: domingo, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira e sábado, que é nome judaico, em vez de ser sétima-feira, por ser o sétimo dia da semana. Como era necessário organizar o calendário, os sete dias foram denominados “semana”, originário de “setmanas”, e qualquer dia da semana passou a ser considerado ‘dia útil’, menos o domingo e os dias de feriado.
De onde vêm as palavras?
Somos, por natureza, curiosos! Queremos saber como surgem as coisas e como são denominadas. Queremos saber também como surgem as idéias, os conceitos, como se elaboram as definições e como esses conceitos e definições são sintetizados em um nome. Enfim, a curiosidade em torno das palavras e da força que elas têm na comunicação nos levam aos dicionários.
Há, porém, muitas palavras, expressões ou frases que são engenhos da mente humana e que, por isso, não se encontram prontinhas nos livros que consultamos, porque nascem de situações em que a percepção de atitudes e comportamentos das pessoas estimula um bom observador a conceituar e a denominar.
Como já sabemos, há um grupo de línguas que são originárias do latim, entre elas, o português. Podemos, então, dizer que, para descobrir o significado de uma palavra, vamos recuando no tempo até chegar ao latim. Dessa forma, estaremos fazendo o estudo da origem das palavras. Como o mundo das palavras é disciplinado, desenvolveu-se uma área de estudo, chamada etimologia, que, metodologicamente, trata da descrição de uma palavra em diferentes estados de língua anteriores por que passou, até chegar ao étimo, que, no português, é, em grande parte, latino. Por isso dizemos que o português é uma língua latina. Por vezes, porém, o latim pegou a palavra por empréstimo do grego. O étimo é, justamente, a base para a formação de uma palavra. Agora, atenção: no Brasil, o português, em sua formação, também recebeu influências, principalmente, das línguas indígenas e das africanas.
Então, quando perguntamos - de onde vêm as palavras? - no português, lançamos o primeiro olhar ao latim. Mas muitas palavras entraram, na nossa língua depois, porque vieram com as coisas e com os nomes que têm nas línguas irmãs. Assim, o francês nos emprestou muito, o espanhol também, o italiano e até mesmo línguas que não são de origem latina, como o japonês, o árabe, o alemão e o inglês, entre outras.
No momento, a língua que mais empresta às outras é o inglês. Ora, esse movimento de ‘vai palavra’, ‘vem palavra’ é natural. O que vale observar é que muitas palavras do inglês que entram nas outras línguas são de origem latina, portanto de étimo latino.
E aí, vamos viajar? Procurar saber de onde vêm as palavras é o mesmo que se deslocar no tempo, no espaço e penetrar nos costumes dos povos. Boa viagem!
► Escola, do grego ao português

A palavra escola seguiu um longo caminho até chegar ao português. No grego, seu berço de origem, escola significava lazer ou tempo aproveitável para o exercício de atividades prazerosas. Quando entrou no latim, a forma schŏla passou a significar que "as crianças deviam dedicar-se aos estudos próprios de pessoas livres, deixando de lado as demais ocupações". Os Antigos deram-se conta de que era preciso preencher o tempo livre das crianças com o estudo. Assim, elas eram confiadas a um mestre que, em classes (classis juniōrum, o mesmo que chamada, chamamento dos jovens), lhes ensinava a leitura e a declamação.
O local onde havia classe recebeu o nome de escola, que é hoje estabelecimento público ou privado no qual se ministra ensino coletivo.
Referência bibliográfica
FAULSTICH, E. et alii. Ensino da Língua Portuguesa para Surdos. Caminhos para a prática pedagógica. Brasília, MEC/SEE, 2003, vol. 2, p. 104
GALEY, B. C. L'Etymo-jolie. Origines surprenantes des mots de tous les jours. Paris, Tallandier, 1991
HOUAISS, A. e VILLAR, M. S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.
► Vai de bicicleta ou de velocípede?

Podemos dizer que o velocípede é uma espécie de pai da bicicleta. Antes desta surgir, os antigos veículos, de duas ou três rodas, eram chamados de velocípede. Até recebeu o apelido, na Inglaterra, de chacoalhador de ossos, por causa da rigidez dos aros e das rodas unidas por ferro. No século XVI, o português conhecia a forma veloc-, que significava veloz, rápido. Mas é por volta de 1874 que a palavra velocípede, formada de veloci (veloz) + pede (pé, pedal) se fixa no português. Atualmente, esse veículo de três rodas, que se move impelido por dois pedais ligados à roda dianteira, em tamanho reduzido, serve para uso de crianças.
Em 1880, surgem os veículos de duas rodas com as características que hoje conhecemos e que passou a chamar-se bicicleta. E sabe como se formou a palavra? Assim: bi- 'dois' + cycle 'roda', 'círculo' + sufixo diminutivo ‘–eta’. Por volta de 1899, pronunciava-se biciclêta, com e fechado, depois fixou-se a pronúncia que conhecemos hoje.
Uma curiosidade que vale a pena assinalar é que a palavra vem do francês bicyclette: o sufixo diminutivo francês –ette passou para o português como o sufixo diminutivo –eta. Há, na nossa língua, algumas palavras com o sufixo –eta, com o mesmo significado do francês – ette, como roleta (pequena roda), banqueta (pequeno banco), naveta (nau pequena), plaqueta (pequena placa metálica). Você deve ter percebido que todas têm a pronúncia do e fechado. O significado de –eta continua a ser ‘pequeno’.
Referência bibliográfica
FIGUEIREDO, Cândido. O que se não deve dizer. 6 ed., Lisboa, Clássica Edit., Vol. II, 1953
HOUAISS, A. e VILLAR, M. S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
LE PETIT ROBERT. Dictionnaire de la langue française. Canada, Isacsoft – CD-Rom, 2004
Sites consultados: http://www.tudosobrerodas.pt/i.aspx?imc=2489&ic=5785&o=3919&f=5785
http://www.trilhanorte.com.br/historiabike.htm
► As fases da lua-de-mel

A lua tem fases, e a mudança entre uma e outra acontece no espaço de um mês. Entre os anos 384–322 antes de Cristo, Aristóteles revelou - já naquela época - que as fases da Lua resultam do fato de que ela não é um corpo luminoso, e sim um corpo iluminado pela luz do Sol. Para compreender melhor: a fase da lua representa o quanto dessa face iluminada pelo Sol está voltada também para a Terra. As quatro fases desse ciclo mais conhecidas são lua nova, quarto-crescente, lua cheia e quarto-minguante, mas a porção que vemos iluminada da Lua, que é a sua fase, varia de dia para dia.
O que lua-de-mel tem a ver com lua? E com mel? Ora, é do conhecimento de todos que mel é uma substância açucarada. Então, vamos tentar juntar os conceitos de lua e de mel pra compreender o significado que buscamos. Antes disso, é preciso saber como a expressão chegou até nós.
A expressão lua-de-mel, segundo diversos autores, chegou ao português pelo francês lune de miel. Por sua vez, o francês tomou emprestado do inglês honeymoon. Nesse percurso internacional, o que todos dizem é que a expressão lua-de-mel corresponde aos primeiros tempos do casamento.
Ora, vamos deduzir. A lua tem quatro fases que se sucedem no período de um mês; lua é, portanto, uma expressão de tempo que corresponde a um mês. Para os casados, o primeiro mês do casamento é a primeira lua. Mel, por extensão de significado, pode simbolizar coisas muito doces, suaves, muito agradáveis. Podemos entender, então, que lua-de-mel é o primeiro doce mês do casamento, mas que pode durar quantas luas o casal quiser.
Vale lembrar que nós podemos estar em lua-de-mel com as coisas boas que acontecem em nossas vidas, com a escola, com o trabalho, com as novas amizades.
Referência bibliográfica
FIGUEIREDO, Cândido. O que se não deve dizer. 5 ed., Lisboa, Clássica Edit., Vol. III, 1955
HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
LE PETIT ROBERT. Dictionnaire de la langue française. Canada, Isacsoft – CD-Rom, 2004
Site consultado: http://astro.if.ufrgs.br/lua/lua.htm
► Pois sim e Pois não

Durante uma conversa, o pois designa vários significados. Pode indicar que quem fala i) entendeu o que o outro disse; ii) está de acordo com o que foi dito e, nesse caso, o pois tem sentido de sim; iii) relaciona idéias com função conclusiva; iv) relaciona idéias com função explicativa. Vamos exemplificar cada uma dessas situações:
i) Pois... eu também já havia pensado nisso.
ii) Pois leve o livro, é seu.
iii) O rapaz entregou o documento, pois está livre para entrar e fazer a prova.
iv) A criança está feliz, pois ganhou o concurso.
Mas o que é divertido, no português, é dizer pois sim, quando se quer dizer não e dizer pois não, no momento de um sim. Normalmente, o ‘pois sim’ é usado com um certo tom de ironia que reforça o desejo de não realizar o que está sendo esperado por outra pessoa: Pois sim, não pago nem um centavo por isso! Já a expressão ‘pois não’ carrega o sentido de concordância, de desfazer qualquer dúvida na fala de quem a emite: Pois não, entre que o médico já vem.
E como surgiram essas expressões? Podemos dizer que ambas têm origem no discurso, na conversa. Assim, pois não resulta de uma frase abreviada, cortada, com vistas a concordar brevemente com o que pergunta outra pessoa num diálogo. Um exemplo seria: Pois não [deixaria você falar comigo]? Pois [eu] não [daria licença de você entrar]?
Por outro lado, quando queremos indicar dúvida ou discordância, a frase abreviada, cortada, traz a expressão pois sim, como no exemplo: Pois [pensa] sim [que não conheço essa história]! Às vezes, para exprimir impaciência ou reforçar a dúvida ou o menosprezo vem acompanhada de ora: ora, pois sim!
Tanto no uso de uma quanto da outra, a entonação serve para alterar-lhes o sentido, por isso na escrita a pontuação é quem dá o tom:
Pois não? Pois não! Pois não... Pois sim! Pois sim... Ora, pois sim!
Referência bibliográfica
HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
NOGUEIRA, Julio. Indicações de Linguagem. Rio de Janeiro, Org. Simões, 1956
SAID ALI, M. Meios de Expressão e Alterações Semânticas. 2 ed. rev. Rio de Janeiro, Org. Simões, 1951
► Nojo de quê?

Hoje, quando dizemos Que nojo!, estamos querendo expressar que temos repulsa por alguma coisa ou situação. Mas a palavra nojo tem outro significado, que vem lá do passado e que somente é usado em situação muito específica: nojo é o mesmo que luto.
E qual é a relação entre repulsa e luto? As derivações que seguem explicam. A língua portuguesa conhece o adjetivo nojado e este deu origem a dois outros adjetivos:
• anojado = a+noj(o)+ado, que é adjetivo e, ao mesmo tempo, particípio do verbo anojar. Anojar é abater-se pela morte de alguém;
• enojado = in+odio+are (inodiare>inodiar>inojar>enojar) é a forma latina que resultou no português enojar. De enojar, que é sentir nojo, surgiram o particípio e o adjetivo enojado.
Assim, as expressões ‘causar nojo’ e ‘fazer nojo’ significam ‘provocar a reação de asco, repugnância’; a expressão ‘estar de nojo’ é o mesmo que ‘guardar luto; estar de luto’.
O significado de nojo, relacionado à morte, encontra-se na linguagem jurídica, na expressão licença-nojo, que é licença por falecimento de esposo(a) e de familiares, determinada por lei.
Por fim, para ampliar seus conhecimentos, veja como a forma latina inodiare resultou em algumas línguas românicas:
Anojar: no português, no galego, e no asturiano.
Enutjar: no catalão
Enojar: no castelhano e no português
Anuxar: no leonês
Enuyar: no antigo aragonês
Enjoar: no português
Ennuyer: francês
Referência bibliográfica
CUNHA, Antonio G. da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1987
FAULSTICH, E. Anotações de aula de História da Língua Portuguesa, Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Letras (IL), Departamento de Lingüística, Português e Línguas Clássicas (LIP), 2006
GARCIA DE DIEGO, Vicente. Dicionário etimológico espanol e hispânico. 2. ed. Madrid: Espasa-Calpe, 1985. 1091p
HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
Sites consultados:
http://revistajuridica.fafibe.br/arquivos/13.pdf
http://www.lexterm.unb.br
► Quando dizemos - o açúcar -, estamos repetindo o artigo definido?

Em italiano, açúcar é zucchero e, em francês, é sucre sem o a inicial, que aparece em açúcar, no português, e em azúcar no espanhol. A forma sukkar, de origem árabe é a base do português, do espanhol, do italiano e do francês. Os contatos entre os árabes e os romanos, na península Ibérica, possibilitaram ao latim a criação da forma saccharum, mas a que prevaleceu, na formação da palavra açúcar, em outras línguas de origem latina, foi succharum, com a sílaba inicial ‘su’.
O árabe possuía uma partícula inseparável – al –, que funcionava como prefixo ou como artigo. Muitas palavras do árabe que entraram em outras línguas levaram esta partícula junto de si. Embora esta regra não tenha sido rigorosamente seguida por todas as línguas românicas, no português, o al- já entra incorporado ao nome que lhe segue, como al+sukkar = açúcar, al+catara = alcatra, e indica que tal palavra do português é de origem árabe. Aí, passamos a desconfiar se todas as palavras iniciadas por a- ou al- são de origem árabe. Ora, nem sempre as palavras iniciadas por a ou al, no português, são de origem árabe. Para garantir se estes elementos resultem de incorporação, é preciso consultar dicionários.
A incorporação é um fenômeno que não se dá igualmente em todas as línguas românicas, mas, no português, a incorporação do artigo al- aos substantivos se dá ora de forma plena (al-), ora de forma abreviada (a-), por causa da perda do -l-. Mesmo escrito a-, podemos inferir que ali existe um al-, como em arroz. Para ilustrar mais, vejamos a origem de arroba e de algodão. Arroba, que significa a quarta parte, deriva-se do verbo rabaá cuja forma de origem deve ter sido *al-rabaá, em que o «l» se assimila à consoante seguinte, resultando daí a forma atual; algodão, que são pêlos macios secos, é palavra formada com base em al-qutun, que passou a significar a planta e o produto do 'algodão'.
Quer conhecer mais? Então, leia, em seguida, uma pequena lista palavras de origem árabe que usamos no português:
• na área político-social: alcaide, alferes, almoxarife,alfândega
• no vocabulário comum: argola, alicate, alfaiate, alcova
• na área da agricultura: açafrão, alecrim, alfazema, algodão
• no vocabulário de frutos: laranja, lima, limão, tâmara
• na área de pesos e medidas: alqueire, arrátel, arroba, quintal
• na área de alimentos: açúcar, aletria, almôndega, arroz
• na área de toponímia: Alfama (refúgio), Alcântara (ponte), Almada (mina)
• na área de ciências: algarismo, álgebra, cifra.
É interessante observar que, em palavras relacionadas a açúcar ou a coisas que contenham açúcar, ora aparece a partícula al/a, ora não aparece. Quer ver? Vamos conferir algumas palavras: sacarose, sacaróide, sacarívoro, sucroquímica; açucarado, açucareiro. Outras: algodoeiro, cotonete. Esta já apresenta uma história própria porque entrou no português pelo inglês assim: qutun (latim) > cotton (inglês) > cotonete (coton+ete), no português. Cotonete é uma marca registrada do inglês que entrou no português, mas saiba que o inglês foi buscar no francês, que também pegou emprestado do árabe qutun.
De volta ao início desta história, perguntamos se você respondeu à questão que aparece no título: quando dizemos o açúcar, estamos repetindo o artigo definido? Bem, a resposta pode ser sim e não. Se voltarmos à origem das palavras, àquelas do árabe que começam por al/a e que entraram no português, vamos ter a impressão de que estamos sim usando o artigo duas vezes. Mas, como já se passaram muitos e muitos séculos, nós já nos esquecemos desse traço original do árabe e podemos então dizer que não, porque a partícula se incorporou de tal forma às palavras, que usamos o artigo definido próprio da língua portuguesa o ou a , sem que nos lembremos da peculiaridade do árabe.
Referência bibliográfica
HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
LE PETIT ROBERT. Dictionnaire de la langue française. Canada, Isacsoft – CD-Rom, 2004
SAID ALI, M. Meios de Expressão e Alterações Semânticas. 2 ed. rev. Rio de Janeiro, Org. Simões, 1951
WEBSTER’S THIRD NEW INTERNATIONAL DICTIONARY. 3 vols., Chicago, Encyclopaedia Britannica, 1986
Site consultado: http://www.riterm.net/revista/n_2/faulstich_araujo-carvalho.pdf
► Não entendi patavina

E afinal, patavina é o mesmo que nada? E se for, qual a relação de significado entre nada e patavina? Que história!
Patavina provém de uma expressão construção patavina, que quer dizer, escrita rebuscada, de difícil compreensão, de que não entendemos quase nada ou nada. Mas não acabou aqui a explicação. Há séculos, viveu um escritor latino, chamado Tito Lívio, que era patavino, porque nasceu na cidade de Patavium/Patávio, na Itália, e que possuía um estilo de escrita próprio e típico da região, difícil de os outros compreenderem. Para esclarecer que não entendiam o que estava escrito, os leitores repetiam que ‘não entendiam o patavino’, ou seja, não entendiam o escritor.
A expressão vulgarizou-se, tomou a forma impessoal de ‘não entender patavina’.
Patavino, que era um adjetivo e indicava o natural da cidade de Patávio, mudou de classe e passou a pronome indefinido com o significado de nada, de coisa alguma, admitindo, assim, a forma terminada por -a (patavina e não patavino) para manter a regularidade com nada.
A cidade italiana de Patávio hoje se chama Pádua, e quem nasce lá é paduano.
Referência bibliográfica
CASTRO LOPES. Origens de Anexins, Prolóquios e Locuções Populares, Siglas etc., 2 ed. aum., Rio de Janeiro, Francisco Alves & Cia., 1909
HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
NASCENTES, A. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Primeira e única edição. Rio de Janeiro, Livr. Francisco Alves, 1932
► AFOGAR OU REFOGAR?

Há pessoas que afogam a comida. Há outras que refogam. É comum ouvirmos alguém dizer a cozinheira refoga a comida, mas não a cozinheira afoga a comida, embora na área da culinária as duas palavras sejam usadas no Brasil. A primeira faz parte do uso comum, mas a segunda tem o uso restrito a algumas regiões do interior do país. Observe que, nas duas palavras, há uma base fog- que significa, no português comum, fogo, daí deduzirmos que refogar e afogar significam passar comida pelo fogo de maneira adequada. De fato, refogar é passar temperos ou outro alimento por gordura fervente. Este procedimento culinário é conhecido por todos que cozinham, por isso podemos dizer simplesmente “refogar a comida”.
Não costumamos, por outro lado, dizer “afogar a comida”. Quando empregamos o verbo afogar, é preciso completar a frase e dizer afogar a comida em azeite, na manteiga, no óleo quente, pois só assim o significado lingüístico de afogar deixa de ser “morrer ou matar-se por ter submergido em água” e passa a ser o mesmo de refogar.
O interessante é que afogar é uma palavra que entrou no português por volta do século XIII, proveniente do verbo latino *affocāre 'apertar (a garganta), estrangular, sufocar'. Por sua vez, o verbo refogar surge no português no século XIX. No português atual, há uma convergência de significado no vocabulário da culinária, pois tanto afogar quanto refogar são ações que exigem que o alimento elimine o líquido pelo vapor no processo de passar por gordura fervente.
Referência bibliográfica
GUEDES, Inês G. Estudo de Alguns Verbos da Culinária Arcaica. Dissertação de Mestrado. LIP/IL/UnB, Brasília, 2001
MORAES SILVA. A. de. Diccionario da Língua Portugueza. 2 tomos, Lisboa, Typographia Lacerdina, 1813
HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
► Do arco da velha

O ditado popular “coisa do arco da velha” parece não fazer parte, atualmente, do vocabulário dos mais jovens, mesmo assim não está abolido da Língua, porque todos os povos guardam usos lingüísticos, mesmo que, muitas vezes, se torne difícil de explicar o significado por causa do distanciamento da criação na linha do tempo.
Diversos autores afirmam que o arco-da-velha é o arco-íris, porque remonta a um arco nas nuvens, à época de Noé. Façamos, aqui, uma outra reflexão. Vamos entender arco como arca, que significa o caixão onde se encerram os mortos. Então, uma velha, que se fingia de morta, entrava na arca (caixão) e os jovens faziam brincadeiras e travessuras, em volta da arca, impossíveis de serem feitas em volta de uma pessoa falecida.
Então, como, na fala popular, arca virou arco e a pessoa que se fingia de morta era uma velha, fixou-se o dito popular “coisas do arco da velha” com significados próximos de praticar coisas extravagantes, travessuras, impossíveis de se acreditar, ou coisa antiga, fora de moda, ultrapassada.
Referência bibliográfica
CASTRO LOPES. Origens de Anexins, Prolóquios e Locuções Populares, Siglas etc., 2 ed. aum., Rio de Janeiro, Francisco Alves & Cia., 1909
HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
Site consultado:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arco-da-Velha
► SKI, ESQUI, PATIM

Estamos diante de três palavras que provocam curiosidade pelo significado, pela diferença entre a forma escrita de cada uma e pelo funcionamento dos objetos que denominam.
A palavra esqui é fácil de ser reconhecida, porque nada mais é do que uma forma decalcada de ski. Escrevemos, em português, como pronunciamos es-qui, apenas foi-lhe dada a forma gráfica das duas sílabas na nossa língua. Dizemos, por isso, que esqui é uma palavra aportuguesada, porém, se é aportuguesada, logo deduzimos que a forma original vem de outra língua. É verdade! A palavra ski surgiu na Dinamarca, no fim do século XIX, para designar ‘utensílio que serve pra andar sobre a neve’ e logo foi adotada pelos ingleses e pelos franceses; chegou ao português pelo francês. Ski ou esqui, que é um utensílio para ser calçado ou preso no calçado, foi criado para deslocações sobre a neve; é composto por uma longa lâmina de madeira, metal ou plástico, com a frente arrebitada. Torna-se, portanto, um objeto patinador ideal para pessoas que vivem em países com neve duradoura.
E patim, que parentesco tem com esqui? De início, podemos dizer que é a semelhança do objeto. Esqui e patim são tipos de calçado que servem para andar sobre a neve. A palavra patim, que já existia no francês desde o século XIII, entrou no português em meados do século XIX. Por sua vez, esqui aparece no português somente no início do século XX. Com relação às datas de surgimento, podemos dizer que, nessa família, patim é mais velho que esqui.
A palavra esqui reflete, no conceito, uma realidade geográfica, daí que recebeu a designação inicial de “ski nórdico ou alpino”. A criação da palavra patim está diretamente relacionada à pata (patte, no francês), que significa pé, com o conceito de parte terminal do corpo humano. Assim sendo, patim é uma espécie de galocha que se transforma em patim de andar no gelo, com o acréscimo de um ferro para deslizar ou de buracos para evitar que o usuário escorregue.
Referência bibliográfica
ALIANDRO, H. (org.) Dicionário Inglês-Português. 7 ed., New York, Pocket Books, 1969
FIGUEIREDO, Cândido de. O que se não deve dizer. 5 ed., Lisboa, Clássica Edit., Vol. III, 1955
HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
LE PETIT ROBERT. Dictionnaire de la langue française. Canada, Isacsoft – CD-Rom, 2004
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"ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO, INCULTA E BELA"
A expressão "Última flor do Lácio, inculta e bela" é o primeiro verso de um famoso poema de Olavo Bilac, poeta brasileiro que viveu no período de 1865 a 1918. Esse verso é usado para designar o nosso idioma: a última flor é a língua portuguesa, considerada a última das filhas do latim. O termo inculta fica por conta de todos aqueles que a maltratam (falando e escrevendo errado), mas que continua a ser bela.

LÍNGUA PORTUGUESA

Olavo Bilac


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...


Amo-te assim, desconhecida e obscura
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!


Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,


Em que da voz materna ouvi: «Meu filho!»
E em que Camões chorou, no exílio amargo
O génio sem ventura e o amor sem brilho!



Sobre o Autor




1865-1918. Poeta brasileiro, Olavo [Brás Martins dos Guimarães] Bilac,
nascido no Rio de Janeiro, foi um dos mais representativos parnasianos do
seu país. Publicou "Crônicas e Novelas" (1893) e "Poesias" (1902). Membro
funndador da Academia Brasileira de