segunda-feira, 28 de junho de 2010

O eterno maluco beleza completaria 65 anos nesta segunda-feira


Raul Seixas completaria 65 anos

O maluco beleza, o roqueiro baiano mais famoso do Brasil faria 65 anos neta segunda-feira 28/06/2010. Raul Seixas, é a principal referência do rock no nordeste, conquistando o resto do País para até hoje ser lembrado em qualquer show de rock. Afinal, quem nunca ouviu o tradicional "Toca Raul"?

A carreira de Raul Seixas foi influenciada pela música de Luiz Gonzaga e pelos repentistas, influências que ele nunca abandonou. Mas a proximidade de sua casa do consulado estadunidense o levou a conhecer a música dos Esados Unidos. Elvis Presley e o rock'n roll lhe tomou de assalto. Elvis seria a grande inspiração de Raul por toda a carreira.

No começo dos anos 60, Raul teve a banda Raulzito e os Panteras, com quem fez os primeiros grandes shows. Em 1967, o cantor foi convidado para abrir um show de Jerry Adriani, o que lhe deu alguma projeção nacional. Mas foi em 1974, com o LP Gita, que Raul conquistou definitivamente o País.

Sempre controverso, Raul ia à contra-mão da Bossa Nova, frequentemente criticando o movimento e chamando seus fundadores de esnobes. Entretanto, a relação com o pessoal da Tropicália era mais tranquila, e o roqueiro ganhou até uma homenagem do amigo Caetano Veloso na música Rock'N Raul.

Mas amizade mesmo Raul construiria com o escritor Paulo Coelho. Os dois foram grandes parceiros, escrevendo juntos diversas letras e fundando em 1974 a Sociedade Alternativa, uma organização que tinha como lei que o indivíduo poderia fazer o que quisesse e isso seria lei. Para divulgar a Sociedade, Raul e Paulo compuseram Sociedade Alterntiva, música pela qual foram perseguidos e se exilados.

Uma das grandes paixões de Raul era o universo extraterrestre. A inclinação pelo tema fazia parte das letras, como em Ouro de Tolo e S.O.S. Entre outras paixões de Raul, estavam HQs, principalmente do Tarzã e Durando Kid. O último entrou na letra de Cowboy Fora da Lei, um de seus últimos sucessos de 1987.

O Maluco Beleza também fez colaborações para a TV, sendo a mais significativa o especial Plunct Plact Zuuum, exibido na Rede Globo em 1983. O programa fazia parte de uma serie de especiais para crianças e até hoje é um dos mais lembrados por pequenos daquela geração. Na abertura do programa, Raul retoma mais uma vez o tema do espaço, surgindo em um disco voador.

Em 1989, faz sua última turnê, com Marcelo Nova, divulgando o disco Panela do Diabo. Morreu no fim daquele ano, aos 45 anos, vítima de uma parada cardíaca. Após sua morte, seu último álbum recebeu um disco de ouro pelas mais 150 mil cópias vendidas. Clássico da Música Popular Brasileira, Raul não pertencia apenas ao rock, como muitos insistiam em rotular, ele mesmo ignorava o rock brasileiro da época que ainda engatinhava, neste disco há muito dos ritmos que influenciaram e eram admirados por ele, a música nordestina, o bolero e claro o rock.

Raul começava a despontar nacionalmente, tinha emplacado duas músicas no FIC 72, festival internacional da canção promovido pela Rede Globo de Televisão e seu compacto "Ouro de Tolo" tinha alcançado um sucesso razoável o que possibilitou a gravação deste segundo álbum solo com o nome Raul Seixas.
Raul posava de guru dos novos tempos, guitarra em punho, o dedo em riste, boina vermelha combinando com a cor da guitarra, parecia um Che Guevara da canção, ou até mais, um profeta revolucionário que trazia naquele disco a boa nova aos (in) fiéis. Carregado de misticismo, o álbum tinha um conteúdo muito doutrinário, a começar pela faixa-título, inspirada no Bhagavad-Gita e na filosofia dos Vedas. O bruxo Aleister Crowley era a grande influência, através de canções como a explícita "Sociedade Alternativa", "Medo Da Chuva", e "O Trem Das 7".

Raul foi o responsável por dar sentido as letras das músicas de rock no Brasil, antes dele, as letras do rock brasileiro eram vazias e totalmente sem sentido, as vezes até incompreensíveis, mero acompanhamento para a parte instrumental, com a ajuda do hoje multimilionário escritor Paulo Coelho (que na época, como vovó já dizia "comiam o pão que o diabo amassou"), eles provaram que seria possível sim fazer letras de rock com qualidade e compreensíveis, este é mais um de tantos legados que Raul deixou para as outras gerações.

O disco é um desfile de ótimas canções que permanecem até hoje no inconsciente coletivo do brasileiro (quem nunca gritou "toca Raul" em um show de qualquer artista, é porque nunca deve ter ido a um show), começa com "Super Heróis" ácida crônica de costumes da época, Raul mostrava novamente sua verve que já tinha sido vista na já citada "Ouro de Tolo". "Medo da chuva" uma belíssima balada pontuada por uma guitarra havaiana, mostra o lado romântico de Raul, sem nunca ser piegas, "hoje eu sei que ninguém neste mundo é feliz tendo amado uma vez" quer frase mais romântica do que esta?.

"As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor" é um delirante repente misturado com o baião e mais uma vez a verve polêmica de Raul se destaca. "Água viva" é outra balada composta com maestria e embalada por um ótimo fundo de cordas. "Sessão das dez" é um bolero de arrasar quarteirão, só o polêmico Raul, que tava pouco se lixando para qualquer coisa, poderia colocar em um disco rotulado de rock, um bolero rasga coração, expressão maior do popularesco, brega da melhor qualidade.

"Sociedade Alternativa" era seu manifesto para a criação de uma nova sociedade que pela letra seria bem mais interessante do que esta que vivemos, pena que não foi adiante, a música virou um clássico instantâneo. "O Trem das sete" talvez uma das mais belas canções da música popular brasileira, atualização apocalíptica da famosa "Trem das onze", ao mesmo tempo esperançoso para os que pegarem o trem e seguirem a "nova vida" e tenebroso para os que não seguirem a "nova vida", os versos "olhe o "Mal", vem de braços e abraços com o "Bem" num romance astral" emoldurados por um coral é simplesmente desolador.

"S.O.S" é mais um flerte de Raul com outras de suas "crenças" a Ufologia, a música mais uma vez é ótima. "Prelúdio" é um poema do Raul social, terminou sendo apropriado indevidamente pela porcalhada dos políticos brasileiros, Raul não merecia isto.

Fechando o disco, "Gita", totalmente influenciado pelos ensinamentos de Baghavad-Gita, a música é um primor, tanto na sua letra quanto na melodia, virou um clássico, talvez a que mais expresse o excelente artista que Raul foi, único, polêmico, um verdadeiro patrimônio da Música Popular Brasileira.

Este disco é fundamental para música brasileira, assim como Rita Lee, se Raul Seixas não tivesse existido, o rock brasileiro também não existiria.