sexta-feira, 9 de julho de 2010

Saudade do Poetinha ( Vinícius de Moraes)



Prof. Cícero

Em uma tempestuosa madrugada de 19 de outubro de 1913, O brilho das nuvens assombreadas por relâmpagos refletia-se nas poças d’água na Rua Lopes Quintas, nº 114. Nesta molhada e úmida madrugada carioca nascia um garoto iluminado Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes. A grafia não está incorreta. Seu pai, Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, além de poeta e violinista amador era um apaixonado pelo latim, dera a ele este nome. Naquela noite nascia na Gávea, o futuro garoto de Ipanema. Mas aos nove anos de idade parece que pressente o poeta o seu porvir, e vai com a irmã Lygia ao cartório na Rua São José, no centro do Rio de Janeiro, e altera seu nome para Vinícius de Moraes.

Sua mãe Lídia Cruz, pianista amadora, apresentou-lhe o mundo da música ainda na terna infância. Desde cedo observava as reuniões na casa de seus pais, onde figuravam poetas e músicos. Escreveu seu primeiro poema romântico aos nove anos, inspirado em uma coleguinha de escola que reencontraria 56 anos depois. Seus amores eram sua inspiração. Na busca do amor verdadeiro, Vinícius de Moraes precisou casar várias vezes, ter várias mulheres de diferentes classes sociais, idéias e tipos físicos (uns belos e outros nem tanto). Mas como dizia o poeta, “beleza é fundamental”. Oficialmente, teve nove mulheres: Tati (com quem teve Susana e Pedro), Regina Pederneiras, Lila Bôscoli (mãe de Georgina e Luciana), Maria Lúcia Proença (seu amor maior, musa inspiradora de Para viver um grande amor), Nelita, Cristina Gurjão (mãe de Maria), a baiana Gesse Gessy, a argentina Marta Ibañez e, por último, Gilda Mattoso.

Tati, a primeira, única com quem casou no civil, é a inspiradora dos famosos versos “Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja imortal enquanto dure”. Deixou-a para viver com Regina Pederneiras. O romance durou um ano, depois do que ele voltou com Tati para deixá-la, definitivamente, em 1956 e casar com Lila, então com 19 anos, irmã de Ronaldo Bôscoli. Foi nessa época que o poeta conheceu Tom Jobim e o convidou para musicar sua peça Orfeu da Conceição. Desta parceria, surgiriam músicas símbolos da Bossa Nova como Chega de Saudade e Garota de Ipanema, feita para Helô Pinheiro, então uma garotinha de 15 anos que passava sempre pelo bar onde os dois bebiam. No ano seguinte, 1957, se casaria com Lucinha Proença depois de oito meses de amor escondido, afinal, ambos eram casados. A paixão durou até 1963. Foi pelos jornais que Lucinha, já separada, soube da ida de Vinícius para a Europa “com seu novo amor”, Nelita, 30 anos mais jovem. Minha namorada, outro grande sucesso, foi inspirado nela.

Em 1966, seria a vez de Cristina Gurjão, 26 anos mais jovem e com três filhos. Com Vinícius teve mais uma, Maria, em 1968. Quando estava no quinto mês de gravidez, Vinícius conheceu aquela viria a ser sua próxima esposa, Gesse Gessy. No segundo semestre de 69 começa sua parceria com Toquinho. No dia de seu aniversário de 57 anos, em 1970, em sua casa em Itapuã, Vinícius transformaria Gesse Gessy, então com 31 anos, em sua sétima esposa. Gesse seria diferente das outras e comandaria a vida de Vinícius com bem entendesse. Em 1975, já separado dela, ele se declara apaixonado por Marta Ibañez, uma poeta argentina. No ano seguinte se casariam. Ele tinha quase 40 anos mais que ela.

Em 1972, a estudante de Letras Gilda Mattoso conseguiu um autógrafo do astro Vinícius após um show para estudantes da UFF, em Niterói (RJ). Quatro anos depois o amor se concretizaria. O poeta , já sessentão; ela, com 23 anos.

Um verdadeiro amante das mulheres, Ninguém na história do Brasil soube cantar a mulher como o nosso eterno poeta de Ipanema, ele costumava se definir como “mulherólogo”. Mas além de amante das mulheres, foi diplomata, letrista, cronista, poeta, boêmio, e acima de tudo um homem apaixonado pela vida.

Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes das canções do LP Arca de Noé com Toquinho, Vinícius, já cansado, disse que iria tomar um banho. Toquinho foi dormir. Pela manhã foi acordado pela empregada que encontrara Vinícius na banheira com dificuldades para respirar. Toquinho correu para o banheiro, seguido de Gilda. Não houve tempo para socorrê-lo. Vinícius de Moares morria na manhã de 9 de julho. No enterro, abraçada a Elis Regina, Gilda lembrava da noite anterior, quando em uma entrevista, perguntaram ao poeta: “Você está com medo da morte?”. E Vinícius, placidamente, respondeu: “Não, meu filho. Eu não estou com medo da morte. Estou é com saudades da vida”.

Há exatamente 30 anos Vinícius de Moraes (o poetinha) nos deixava com saudade da vida, mas ele ficou imortalizando em suas belas obras musicais e literárias. O poeta de Ipanema nos legou algumas obras primas do melhor que já se produziu em nossa MPB , com seus mais variados ritmos: do fox-trot ao samba canção; da valsa à música popular; do afro-samba às canções românticas.

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

Eu Sei Que Vou te Amar

Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida.

Vinicius de Moraes