sexta-feira, 27 de agosto de 2010

o poder opressor na formação de oprimidos contentes






O PODER OPRESSOR NA FORMAÇÃO DE OPRIMIDOS CONTENTES

Paulo Rogério Ribeiro de Carvalho*

RESUMO

A história está repleta de pessoas que formam a classe dominante, esta que determinam as ações e pensamentos dos oprimidos da época. Dominam como personalidades indestrutíveis. Oprimidos e opressores participam de um jogo preestabelecido. Onde o ganhador sempre será o dominante e o derrotado é a grande maioria que se acomodam e se conformam com a falsa felicidade. Sem preocupar-se com o seu contexto social.

PALAVRAS-CHAVE: classe dominante, falsa felicidade, jogo preestabelecido.

INTRODUÇÃO

Em “O Juiz de Paz na Roça” é relatado a opressão por parte do juiz, em detrimento do bem pessoal. Os cidadãos dão a autoridade a uma pessoa, o juiz, que faz o que bem quer. É com o intuito de mostrar a real situação do poder opressor na contemporaneidade que este artigo é apresentado. A fim de discutir se realmente ainda os cidadãos se comportam como meros espectadores de um filme. Este trabalho tem como finalidade levar à reflexão sobre as ações aparentemente boas do poder. Seja ele qual for, na construção de máquinas pensantes, e à medida que é pressionada abre a boca e faz um belo sorriso de contentamento. Tem-se como base a obra de Martins Pena que retrata a situação das injustiças, do uso do poder sem limites.

Juiz - É verdade, Sr. Tomás, o que o Sr. Sampaio diz?

Tomás - É verdade que o leitão era dele, porém agora é meu.

Sampaio - Mas se era meu, e o senhor nem mo comprou, nem eu lho dei, como pode ser seu?

Tomás - É meu, tenho dito.

Sampaio - Pois não é, não senhor. (Agarram ambos no leitão e puxam, cada um para sua banda.)

Juiz, levantando-se - Larguem o pobre animal, não o matem!

Tomás - Deixe-me, senhor!

Juiz - Sr. Escrivão, chame o meirinho. (Os dous apartam-se.) Espere, Sr. Escrivão, não é preciso. (Assenta-se.) Meus senhores, só vejo um modo de conciliar esta contenda, que é darem os senhores este leitão de presente a alguma pessoa. Não digo com isso que mo dêem.

Tomás - Lembra Vossa Senhoria bem. Peço licença a Vossa Senhoria para lhe oferecer.

Juiz - Muito obrigado. É o senhor um homem de bem, que não gosta de demandas. E que diz o Sr. Sampaio?

Sampaio - Vou a respeito de dizer que se Vossa Senhoria aceitar, fico contente.

Juiz - Muito obrigado, muito obrigado! Faça o favor de deixar ver. Ó homem, está gordo, tem toucinho de quatro dedos. Com efeito! Ora, Sr. Tomás, eu que gosto tanto de porco com ervilha!

Tomás - Se Vossa Senhoria quer, posso mandar algumas.

Juiz - Faz-me muito favor. Tome o leitão e bote no chiqueiro quando passar. Sabe aonde é?

O opressor utiliza do poder para conseguir o que deseja. Faz com que os opressores sintam-se felizes sem darem conta da real situação. São enganados e apóiam a própria desgraça.

FELICIDADE INDUZIDA

O meio social é cheio de interações entre os agentes. As relações de um com o outro possibilitam o aparecimento do poder. Este que pode ser transformado em crescimento coletivo ou em opressão. A História é repleta de poderosos que usaram o seu poder econômico, intelectual, discursivo, entre outros para persuadir àqueles que não possuíam. Além de possibilitar uma falsa felicidade aos dominados. A acomodação tornou-se uma maneira de ser “feliz”. E a aceitabilidade de tudo que vem de cima está cada vez mais ampla no mundo contemporâneo, e todos preferem dizer que “está bem assim”, para não ter o trabalho de pensar e refletir sobre o que está em sua volta.

Será que a grande massa capitalista não está a mercê do poder e não vêem que sua felicidade é uma felicidade imposta? “Na Literatura, no cinema, na historia, numerosas figuras personificam o fenômeno do poder em sua grandiosidade e nos lembram que se trata de uma questão concreta e sempre atual”. (CHALITA; 2005; p.11).

Sabe-se que o poder só existe a partir de uma relação entre pessoas. É sempre um fenômeno social, e ocorre na troca e confronto de idéias, na qual prevalece a idéia dominante. Não é de se espantar com este fenômeno, pois a sociedade necessita do poder. Porém o uso exagerado pode levar a mutilações de pensamentos. Trata-se de ideologias impostas, a fim de enganar uma grande quantidade de pessoas. Na antiguidade oriental os Faraós eram os donos do saber, eram monarcas absolutos cujas decisões tinham caráter de leis, eram considerados deuses. Alexandre Magno, na Grécia tinha o poder descentralizado, dominava várias polis. O Império Romano continuou a dominar através de várias guerras civis. Percebe-se que o Poder foi e será presente na História humana. Antes o poder era concebido a uma única pessoa. Hoje com a evolução do homem e suas tecnologias também houve uma ampliação do poder. Este que se materializa, subjetiva em muitas formas, na política, no comércio, na educação, nos meios de comunicação. Este último desencadeia uma opressão disfarçada, coberta de belas e boas vontades.

Na sociedade contemporânea, a luta pelo poder ocupa lugar em cada casa, em cada bairro, dentro de uma pequena empresa, em cada grupo social. A partir do momento em que se inserem na vida em sociedade, os homens já participam do jogo do poder. (CHALITA; 2005; p.26)

Um jogo que o ganhador já tem em mãos o troféu, e os perdedores conformados levanta-se para aplaudir a própria derrota.

Em “O Juiz de Paz da Roça”, obra de Martins Pena, o poder do juiz é usado para impor suas vontades. Há uma grande conformidade por parte dos homens pobres que reivindicam seus direitos, são a todo o momento enganado pelo juiz. De uma forma cômica, Pena retrata a situação vivida na época, uma época cheia de injustiças, no qual prevalecem as leis injustas. O Poder é usado de modo a oprimir todos aqueles inferiores. Estes que não dão importância e preferem continuar oprimidos contentes. Visto que no final da história o contentamento é expresso com uma festa, oprimidos e opressores bebem e comem numa felicidade momentânea e ilusória.

Na escola, em casa, no discurso político, em qualquer lugar existem relações de poder. Na prática educativa é comum o professor se intitular o “dono do saber”, e põe a sala de aula a seus pés. A todo o momento ele centraliza as atenções para si. Pouco se ver alunos questionadores, e quando perguntam, são perguntas superficiais. Não veem além do transmitido pelo professor ditador. Em casa a relação de poder é mais afetuosa, mas não deixa de ser poder, pois os filhos obedecem às regras. A obediência já vem desde o nascimento. À medida que normas são colocadas, há uma internalizaçao do certo e errado. Na política é muito grande o uso do poder. Com o auxilio da má educação, os políticos sentem-se à vontade para fazer o que querem. Os eleitores embaixo e o candidato sobre eles. Uma multidão de ouvintes surdos. Aplaudem anestesiados pela euforia e no momento não conseguem enxergar a dominação. O poder seduz quem domina e quem é dominado. No palanque, toda aquela massa eufórica seduz o candidato. Na medida em que os ouvintes sentem-se seduzidos pelo discurso persuasivo. “A ânsia pelo poder é a mais fundamental do ser humano, e jamais poderá ser saciada”. (CHALITA; 2005; p. 25). Nunca é demais. O homem sempre irá buscar mais e mais o poder. Este que é atraente, pois dar ao homem mobilidade, ação. Conseguinte sente-se dono do saber, dono do seu destino e do destino dos dominados. Começa a pensar por todos e fazer o que acha proveitoso e lucrativo para o crescimento individual. Pouco importa o bem coletivo.

A mídia também faz sua parte, seu papel de transmitir a felicidade em todos os lares. Apresenta-se como revolução da comunicação. Porém não faz jus da designação. A comunicação é envolvente, entre um e outro ou outros. A televisão é um espaço apenas informativo e não deveria ser considerado como meio de comunicação efetiva. Seria mais correto dizer que a mídia televisiva está mais para um meio de dominação, opressão do que para comunicação. O ditador da contemporaneidade não é mais o ser humano em representação, mas o ser humano que usa de um instrumento para camuflar suas ideologias. Transmite tudo que é desnecessário à vida humana. E pouca coisa para o bem da humanidade é divulgado. O ideal de vida é prometido pelas grandes indústrias. A felicidade encontra-se nas marcas, nos artistas, no bem material. Um mundo inventado para atrair e destruir. “Sabemos que a vontade de impor “o melhor dos mundos” pode ser o pretexto das piores ditaduras”. (LEVY, Pierre; 2007; p. 79). Por este motivo, os cidadãos devem tomar uma posição mais crítica diante de tudo e de todos. Pesquisar e analisar os fatos aparentemente bons. Não ficar acomodado e aceitar tudo, sem antes investigar. Pois se não investiga não tem como discutir suas idéias. E ser feliz de fato.

A lucratividade é o ponto em questão. Todos correm atrás de lucros, sem se preocupar com o mundo em sua volta. Dificilmente um tema importante é colocado nos programas de TV, e quando passa, é no momento que ninguém assiste. Programas sensacionalistas não faltam, prendem os telespectadores pela emoção e comoção. Entretém toda a massa consumidora para não pensarem no real e apenas consumirem. Impõem uma realidade ilusória e uma felicidade sem sentido.

Desde a época do Renascimento, após a Idade Média, o homem começou a sentir-se superior e suas tecnologias ampliaram também se ampliou o modo de pensar. A estética tomou dimensões inacreditáveis. E a sociedade atual está voltada para ela. Como dar lucros, a mídia não deixou de manipular os pensamentos. Mostram belezas a serem alcançadas. Tanto bem material como bem subjetivo. São enganados e preferem continuar sendo. Pois é bem melhor continuar no sonho que abrir os olhos e ver o real, a calamidade, o caos que a humanidade se encontra.

Para quem deseja mudança o ideal é repudiar as ações sem sentido e tentar mudar seu modo de ser e de ver o mundo, a fim de encontrar uma felicidade concreta. Mas para quem quer continuar com a felicidade enganosa, é preferível juntar-se com o opressor e comemorar a derrota. A sua e a do opressor, que não visa o futuro, só o presente. Fazer como os oprimidos do livro “O Juiz de Paz da Roça”, comer e beber da fonte do prazer tirânico.

Juiz - Assim, meu povo! Esquenta, esquenta!...

Manuel João - Aferventa!

Tocador,

cantando - Em cima daquele morro

Há um pé de ananás;

Não há homem neste mundo

Como o nosso juiz de paz.

Todos - Se me dás que comê,

Se me dás que bebê,

Se me pagas as casas,

Vou morar com você.

Juiz - Aferventa, aferventa!...

CONCLUSÃO

À medida que o homem evolui, também segue o mesmo rumo todo pensamento anterior. Poderosos e oprimidos sofrem mudanças em cada época histórica. E uma nova era surgirá, esta contém marcas da opressão e continua a produzir uma nova. No século XXI como em tempos atrás, uma minoria comanda a multidão de pessoas oprimidas e contentes da situação em que se encontra. Martins Pena utiliza de temas vividos na época e que hoje ainda está presente no meio social. Seja de como a obra apresenta ou de forma disfarçada.

REFERÊNCIAS

CHALITA, Gabriel. O Poder: Reflexões sobre Maquiavel e Etieme de La Boétie. ed. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. ed. 5. São Paulo: Loyola, 2007.

PENA, Martins. O Juiz de Paz na Roça. http://vbookstore.uol.com.br/nacional/misc/juiz.PDF

1ª postagem em o poder opressor na formação de oprimidos contentes, em 11 de Abril de 2010 http://www.infoeducativa.com.br/index.asp?page=artigo&id=265