A dicotomia dos pirilampos
Nesse verão,
não me cabe mais
falar aos passarinhos,
Pois estes, ficaram velhos
e já não voam mais,
quando em estado de palavras.
A solidão,
definitivamente,
encruou minha voz,
que tinha gesto e força,
e vivia de sugerir
que o amor seria
uma semente raivosa
distante de todas as belezas.
Nao existe mais tempo para apalavra.
Refugiada no que se abisma,
longe de qualquer significado,
Ela caminha
por ruas desertas,
como estivesse
bêbada de vazios e estrelas.
Por isso
é que acendo,
a dicotomia dos pirilampos,
por poder caminhar,
tropeçando em luzes apagadas.
Minhas mãos
teimam em abraçar a indiferença,
alimentadas por uma solidão comum,
que se multiplica.
E desembesta
a presumir provisões de rios acantoados
na geografia dos pássaros.
Minhas mãos,
sem perceber
criaram como slogan
Um sorriso que já não cabe no silêncio
que faço e torno mineral.
Nesse instante,
Crescem no jardim
flores de tonalidades encardidas
que me convencem
a alma inconclusa.
Me vem à linguagem
a estranha felicidade
de gritar aturdido
que a primavera
se tornou inútil
no poema.
No poema
agora só importam os girassóis.
Esses embonitados girassóis,
que na distância
aprendi desenhar
no chão por onde passo,
Como se andasse
dentre de teus olhos.
de Cleilson Pereira Ribeiro
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*RIBEIRO, Cleilson P. O poeta do Barro-Ce. Natural de Óros(Ce)é poeta,compositor,cordelista,pesquisador teatral e contista. Prof. da rede pública do Estado do Ceará. Formado em letras.