sexta-feira, 23 de maio de 2008

futurus incertus

Falando a verdade

José Cícero Gomes

Um dos temas incontornáveis do debate político na mídia burguesa é que o socialismo morreu, o fantasma que assustava a burguesia e todos os conservadores desde o século XIX, desapareceu. Alguns dizem definitivamente. A situação da ideologia capitalista neste nosso mundo globalizado parece ter adquirido uma nova vitalidade expandindo-se universalmente no campo da produção, do consumo e da cultura. Até no imaginário e no desejo de cada ser humano, mesmo daqueles a quem jamais poderá oferecer alguma coisa além da miséria, da fome e da dor, a ideologia da burguesia penetrou no imaginário coletivo. Os proletários a quem Marx e Engels apontavam uma missão histórica, em 1848, no Manifesto do Partido Comunista, pois "os proletários nada têm a perder, além de seus grilhões", tem hoje alguma coisa a perder: as garantias conquistadas, num mundo onde a exclusão e a miséria são reais para milhões de pessoas; mas acima de tudo, a classe obreira tem a perder seus sonhos. Esse é o dilema atual daqueles que pretendem manter a crítica e a lucidez no meio do caos e do desastre do afundamento das nossas sociedades, navios de luxo, aparentemente são naus que não afundará nunca, mas cujo destino é ir a pique. Um resultado fatal dos erros de planejamento e da arrogância de alguns comandantes (gestores), a sua evolução nos últimos anos e os desafios que agora se lhe colocam. Falar verdade e recusar os truques propagandísticos é o único caminho sério. Os anos 90 foi o momento de consolidação do capitalismo globalizado com processo de crescimento da União Européia e da economia norte americana. Mas hoje se observa a primeira grande crise capitalista do mundo globalizado, o capitalismo não pode fulgir das suas contradições. Se na primeira metade do século XX: os donos do poder em países como Alemanha, Áustria e Itália procuravam convencer o povo da morte dos regimes políticos liberais, apregoando o autoritarismo facista, os que apregoam que Morreu o socialismo, são os mesmos que ainda acreditam que ele está muito vivo. Temendo seu renascimento no meio popular, eles procuram convencer que o marxismo está ultrapassado. Como se ainda há a exploração do homem pelo homem, a dor, a fome e a injustiça social? No entanto, a desastrosa experiência do pseudo socialismo no nosso século XX ( O burocratismo estatal stalinista ), além de ser responsável por este último fôlego do capitalismo e pela desilusão dos movimentos sociais com a possibilidade histórica de uma alternativa, talvez tenha atingido também mortalmente o próprio conceito. O conceito de socialismo que até os nazistas usaram, deu cobertura ideológica às burocracias stalinistas, para o exercício terrorista do poder. Por isso, alguém que se queira hoje afastar dessas infâmias e deseje falar de uma alternativa socialista, talvez tenha que usar outra termologia, como autogestão, autogoverno ou federalismo. Ou então, terá de inventar novos conceitos, como fizeram no começo do século XIX os criadores do termo socialismo ou como fez Proudhon, ao forjar a palavra anarquismo para se referir a uma sociedade autogovernada. O certo é que a classe obreira tem que repensar sua luta e acordar para a conjuntura de percas e derrotas neste mundo neoliberal.