sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Camĭnis IV

A voz caetense


Levantou-se então um vento operário que varreu
de sul ao norte entre os meios de produção
numa terra de homens desesperançosos

Durante muitos anos o status quo foi sacudido
mas não transformado porque esta voz era igual
a todas as outras

Depois de dezessete anos a terra dos homens desesperançosos
ficou subitamente cheia de esperanças
com o surgimento de uma voz que ecoava no ABC
nem quando a repressão se fazia presente
se calou esta voz

Nos anos 80 a esperança renasceu
e toda gente saiu da eterna letargia
para se somar a voz caetense que vinha do ABC
e gritar por liberdade e diretas já

E houve quem chorasse de alegria ao vê Tancredo Neves eleito
mesmo indiretamente
mas logo muitos choraram de tristeza
ao vê-lo partir

E houve quem ininterruptamente cantasse
uma bela canção mineira que falava de
"alegria e muito sonho espalhados no caminhos”
ouvida antes apenas por jovens sonhadores
que acreditavam que viviam num novo tempo

E pelos parques afora arderam fogueirinhas de papel
onde corações sonhadores se aqueceram e sobre sua luz
comporão e cantaram novas canções sobre um novo tempo
de homens esperançosos

E um homem caminhou em busca do Planalto
e lá chegou após algumas tentativas
e a voz caetense se cala

Ali se despiu e desnudo se revela amante
de tudo aquilo que condenava
mostra que a voz do ABC era igual
a todas as outras

J. Cícero Gomes