A crise econômica mundial
Por José Cícero Gomes
04 de fevereiro de 2009
O traço singular da crise econômica mundial deste início século XXI é a dificuldade de compreendê-la com precisão, sua causa ou suas causas que a deflagrar. Antes dos tempos modernos as depressões podiam ser imputadas claramente à guerras, revoluções ou catástrofes naturais. A economia capitalista moderna é diferente. Quando tudo parece estar indo bem, inexplicavelmente emergem estranhas convulsões de seu bojo, o que Marx chamou de crise inerente do capitalismo, a qual ele classificou de contradições imanentes e inexoráveis do sistema capitalista. E sabido que estas convulsões não podem ser explicadas por esse ou aquele fato ou evento específico. Como não poderia deixar de ser, os economistas inventaram ao longo dos tempos inúmeras hipóteses para a compreensão das flutuações econômicas no mundo Capitalista.
Todos conhecem ou já ouvira falar na teoria marxista que atribui imanência e inexorabilidade de contradições cada vez mais graves ao capitalismo, e que ao fim e ao cabo levariam à sua superação pelo comunismo. A hipótese de Marx pertence ao gênero das teorias da superprodução, segundo as quais o capitalismo seria tão produtivo que haveria um encalhe de mercadorias em vista da incapacidade das massas para adquiri-las. A outra teoria mais conhecida é a de Keynes, que integra o grupo do subconsumo. Para o inglês, que divisava contradições internas no capitalismo muito parecidas com as de Marx, as crises são o reflexo da insuficiência de poder de compra por parte da população. Os seguidores de Marx e os discípulos de Keynes divergem entre si em detalhes, mas concordam no principal: a economia de mercado é intrinsecamente instável e perversa.
De sorte que, para quem quer compreender o que está ocorrendo com a economia globalizada no presente, é preciso recorrer às análises e pesquisas de estudiosos sérios. Não basta apenas observar as explicações da Escola de Chicago e as análises de Wall Street, se faz necessário analisar a semelhança dos anos 20 com os anos 90 nos Estados Unidos da América. A expansão do crédito além da poupança real levando a distorções da alocação de recursos. O aumento exagerado do consumismo estadunidense força os empresários dos setores mais próximos do consumo final a competir com os setores mais distantes pelos fatores de produção. A farra do crédito barato e fácil, contudo, gera inflação e estende demais o endividamento dos agentes econômicos, de modo que, mais cedo ou mais tarde, o governo e os bancos são forçados a elevar os juros e restringir a oferta de crédito. Chega de emprestar; a hora agora é de cobrar as dívidas. Os aumentos dos juros e dos preços subitamente deixaram de calças curtas, os empresários do setor de bens de capital. Eles se dão conta de que estavam equivocados e que suas previsões estavam erradas, que não conseguirão recuperar o que investiram e aí começa o salvem-se quem puder do corte de custos e demissões. As crises sempre começam nos setores da estrutura de capitais mais afastados do consumo final e só mais tarde vão derrubando o resto.
Mas, o que há de singular nesta crise econômica mundial atual é a enorme quantidade de erros de avaliação simultâneos por parte de empresários experientes e especuladores astutos. Entender a causa desses blocos de erros é a chave para decifrar o mistério desta crise e de outras que ainda viram afligir o sistema econômico mundial.
Num mundo onde tudo é heterogêneo só o dinheiro é homogêneo. A moeda tem a função reguladora das decisões tomadas pelo agente econômico no mercado, ela tornasse um termômetro vital que expressa as razões de troca entre as mais variadas coisas – os preços – numa única unidade de conta apta a permitir o cálculo econômico racional. Os preços monetários transmitem informações aos agentes econômicos sobre a escassez relativa dos fatores de produção e dos bens de consumo, e com base nessas informações os agentes traçam seus planos e tomam suas decisões. Caso esse delicado mecanismo de transmissão de informações através dos preços seja danificado, os agentes estarão mais inclinados a planejar sobre dados imaginários da realidade e portanto a tomar decisões equivocadas.
Para haver investimento é necessário haver poupança, é a diferença positiva entre o que as pessoas produzem e o que consomem. A poupança agregada reflete uma inclinação geral das pessoas de adiar o consumo no presente em troca de um porvir seguro e estável. Já que o consumismo no presente, reduz a poupança agregada , ao ser reduzida e substituída pelo consumo do capital existente, o que resultará em consumo futuro declinante e em queda do padrão de vida. Esta conjuntura de favorecimento do consumo desenfreado, da especulação financeira e do crédito fácil, é a face desta virada de século e o contexto real do mundo globalizado neste início de milênio. Por tudo isto hoje estamos todos colhendo os frutos amargos
do neo-liberalismo que produziu tal economia global especulativa, fraudulenta, ilusória e volúvel.
O fato é que a crise econômica já bateu na nossa porta, está ai e seus desdobramentos para o bem ou para o mal dependerão das ações futuras do governo dos Estados Unidos da America. Será a receita segura para o presidente Obama numa crise de grandes proporções seguir os passos dados por Hoover e Roosevelt nos anos 30? Naquele tempo, o governo estadunidense fez tudo o que se poderia imaginar de pior para abortar a recuperação. Instituiu altíssimas tarifas alfandegárias, arruinando o comércio internacional, duplicou os impostos, descarregou subsídios sobre setores ineficientes, desvalorizou o dólar, contraiu déficits fiscais enormes, inflacionou a moeda e interveio no mercado de trabalho. A recessão inicial então se eternizou como uma brutal depressão. Obama e sua equipe econômica têm pela frente uma tarefa titânica, salvar a economia estadunidense e conseqüentemente a global, já que as economias do mundo estão atreladas a dos Estados Unidos da América.
Emergentes como Brasil, China e Índia não ficaram imunes aos efeitos desta crise, mas vem suportando, no caso do Brasil até dezembro de 2008 teve um desempenho positivo, mas agora em janeiro de 2009 a crise já nos atinge como um furação, onda de desemprego, reduções na jornada de trabalho, redução dos salários queda no consumo, inadimplência e etc. Seria até um milagre se um país como o nosso ficasse olhando a crise de um camarote sem ser abalado. O Brasil já sofre o impacto, mas, com os fundamentos da economia aparentemente sólidos e com o PAC (programa nacional de Aceleração de Crescimento), irá o Brasil conseguir suportar está crise?
Por José Cícero Gomes
04 de fevereiro de 2009
O traço singular da crise econômica mundial deste início século XXI é a dificuldade de compreendê-la com precisão, sua causa ou suas causas que a deflagrar. Antes dos tempos modernos as depressões podiam ser imputadas claramente à guerras, revoluções ou catástrofes naturais. A economia capitalista moderna é diferente. Quando tudo parece estar indo bem, inexplicavelmente emergem estranhas convulsões de seu bojo, o que Marx chamou de crise inerente do capitalismo, a qual ele classificou de contradições imanentes e inexoráveis do sistema capitalista. E sabido que estas convulsões não podem ser explicadas por esse ou aquele fato ou evento específico. Como não poderia deixar de ser, os economistas inventaram ao longo dos tempos inúmeras hipóteses para a compreensão das flutuações econômicas no mundo Capitalista.
Todos conhecem ou já ouvira falar na teoria marxista que atribui imanência e inexorabilidade de contradições cada vez mais graves ao capitalismo, e que ao fim e ao cabo levariam à sua superação pelo comunismo. A hipótese de Marx pertence ao gênero das teorias da superprodução, segundo as quais o capitalismo seria tão produtivo que haveria um encalhe de mercadorias em vista da incapacidade das massas para adquiri-las. A outra teoria mais conhecida é a de Keynes, que integra o grupo do subconsumo. Para o inglês, que divisava contradições internas no capitalismo muito parecidas com as de Marx, as crises são o reflexo da insuficiência de poder de compra por parte da população. Os seguidores de Marx e os discípulos de Keynes divergem entre si em detalhes, mas concordam no principal: a economia de mercado é intrinsecamente instável e perversa.
De sorte que, para quem quer compreender o que está ocorrendo com a economia globalizada no presente, é preciso recorrer às análises e pesquisas de estudiosos sérios. Não basta apenas observar as explicações da Escola de Chicago e as análises de Wall Street, se faz necessário analisar a semelhança dos anos 20 com os anos 90 nos Estados Unidos da América. A expansão do crédito além da poupança real levando a distorções da alocação de recursos. O aumento exagerado do consumismo estadunidense força os empresários dos setores mais próximos do consumo final a competir com os setores mais distantes pelos fatores de produção. A farra do crédito barato e fácil, contudo, gera inflação e estende demais o endividamento dos agentes econômicos, de modo que, mais cedo ou mais tarde, o governo e os bancos são forçados a elevar os juros e restringir a oferta de crédito. Chega de emprestar; a hora agora é de cobrar as dívidas. Os aumentos dos juros e dos preços subitamente deixaram de calças curtas, os empresários do setor de bens de capital. Eles se dão conta de que estavam equivocados e que suas previsões estavam erradas, que não conseguirão recuperar o que investiram e aí começa o salvem-se quem puder do corte de custos e demissões. As crises sempre começam nos setores da estrutura de capitais mais afastados do consumo final e só mais tarde vão derrubando o resto.
Mas, o que há de singular nesta crise econômica mundial atual é a enorme quantidade de erros de avaliação simultâneos por parte de empresários experientes e especuladores astutos. Entender a causa desses blocos de erros é a chave para decifrar o mistério desta crise e de outras que ainda viram afligir o sistema econômico mundial.
Num mundo onde tudo é heterogêneo só o dinheiro é homogêneo. A moeda tem a função reguladora das decisões tomadas pelo agente econômico no mercado, ela tornasse um termômetro vital que expressa as razões de troca entre as mais variadas coisas – os preços – numa única unidade de conta apta a permitir o cálculo econômico racional. Os preços monetários transmitem informações aos agentes econômicos sobre a escassez relativa dos fatores de produção e dos bens de consumo, e com base nessas informações os agentes traçam seus planos e tomam suas decisões. Caso esse delicado mecanismo de transmissão de informações através dos preços seja danificado, os agentes estarão mais inclinados a planejar sobre dados imaginários da realidade e portanto a tomar decisões equivocadas.
Para haver investimento é necessário haver poupança, é a diferença positiva entre o que as pessoas produzem e o que consomem. A poupança agregada reflete uma inclinação geral das pessoas de adiar o consumo no presente em troca de um porvir seguro e estável. Já que o consumismo no presente, reduz a poupança agregada , ao ser reduzida e substituída pelo consumo do capital existente, o que resultará em consumo futuro declinante e em queda do padrão de vida. Esta conjuntura de favorecimento do consumo desenfreado, da especulação financeira e do crédito fácil, é a face desta virada de século e o contexto real do mundo globalizado neste início de milênio. Por tudo isto hoje estamos todos colhendo os frutos amargos
do neo-liberalismo que produziu tal economia global especulativa, fraudulenta, ilusória e volúvel.
O fato é que a crise econômica já bateu na nossa porta, está ai e seus desdobramentos para o bem ou para o mal dependerão das ações futuras do governo dos Estados Unidos da America. Será a receita segura para o presidente Obama numa crise de grandes proporções seguir os passos dados por Hoover e Roosevelt nos anos 30? Naquele tempo, o governo estadunidense fez tudo o que se poderia imaginar de pior para abortar a recuperação. Instituiu altíssimas tarifas alfandegárias, arruinando o comércio internacional, duplicou os impostos, descarregou subsídios sobre setores ineficientes, desvalorizou o dólar, contraiu déficits fiscais enormes, inflacionou a moeda e interveio no mercado de trabalho. A recessão inicial então se eternizou como uma brutal depressão. Obama e sua equipe econômica têm pela frente uma tarefa titânica, salvar a economia estadunidense e conseqüentemente a global, já que as economias do mundo estão atreladas a dos Estados Unidos da América.
Emergentes como Brasil, China e Índia não ficaram imunes aos efeitos desta crise, mas vem suportando, no caso do Brasil até dezembro de 2008 teve um desempenho positivo, mas agora em janeiro de 2009 a crise já nos atinge como um furação, onda de desemprego, reduções na jornada de trabalho, redução dos salários queda no consumo, inadimplência e etc. Seria até um milagre se um país como o nosso ficasse olhando a crise de um camarote sem ser abalado. O Brasil já sofre o impacto, mas, com os fundamentos da economia aparentemente sólidos e com o PAC (programa nacional de Aceleração de Crescimento), irá o Brasil conseguir suportar está crise?